O MATUTO E O PÉ DE LÃ (linguagem matuta)

Chegava im casa cansadu

i logo ia mim deitar

di quandu u sonu matadu

a muier ia procurar

mais ela virava de ladu

i só dizia sai prá lá.

Eu todo ingenu i imaturo

sorria contente i seguro

"a pobezinha vai cuchilar"

chegava amanhã noutro dia

i eu na minha alegria

vortava pra trabaiar

A noite ôtra veiz eu via

a sena si ripitia

sem nada discunfiar

Mais quando na rua eu saia

o pôvo todu sorria

i eu ficava a pensar

"U qui será que tá acontecenu

que us amigos cuchicham

quando mim vêem chegar"

Eu ficava serenu

querenu adivinhar

A muier toda melosa

cherava mais qui uma rosa

sorria ao me aproximar

me dava toda atenção

surria cheia de educação

Mais!

de quando nois ia deitar

ela virava de ladu

i cumessava a roncar

i si eu tocasse nu corpu dela

ela dizia

"Vá mais pra lá"

Um dia dexei u serviço mais cedo

i naquela noite em segredu

vortei apressadu pra casa

Oh! qui tamanha decepção

eu acabava di avistar

um caxeiru viajante dava a Maria

u qui há muitu eu quiria

i pelejava pra intregar

Só aí foi queu vim compreender

os motivos das risadas

que eu num podia entender

Vou imbora cidadão

Maria, aí Maria! num ti queru mais não

inquantu vida eu tiver

de caxeiru viajante

quero distança José

Pois o danadu armadu

é um pirigu danado

não respeita ninguém

Avança na roça dos outru

capinando pela raiz

e com aquele cabu di enxada

transformou Maria im miritriz

Agora tomi cuidadu vancês

pra não cair em isparrela

ou o diachu do viajante

lhe inforca pela goela

lhe bota dois par di chifre

daquelis mermu que é de gazela.

Não tor lhe desejando mau

mais é um avisu sinhor

zele da roça di sua sinhora

pra não ter qui ver cum primor

Outru homi fuçando nela

com um novu cutivador