A SABEDORIA DOS SIMPLES

Naquela cidadezinha estabelecera-se, vindo da metrópole. Era seu desejo terminar os dias de vida pacificamente, em meio a gente simples, e canto de pássaros. Solteiro por opção, aprendera a cuidar de si desde cedo. Agora, aos noventa anos, escolhera Bicuí para morar.

O momento não se mostrava oportuno, devido a uma polêmica surgida nesses dias. A verdade é que de um lado, jovens estudantes do ensino médio, mostravam-se inconformados com os professores de História, que asseguravam a assertiva: ‘Os romanos mataram Jesus’. Os estudantes haviam aprendido outra assertiva: ‘Os judeus mataram Jesus’. A controvérsia estava gerada.

Juvêncio não desviava a atenção dos acontecimentos. Ouvira falar até de um plebiscito que se cogitava para resolver o impasse criado entre a população. A Câmara de Vereadores aprovara o projeto. Data marcada, a Campanha pró e contra havia sido deflagrada.

Na sua autoridade – outorgada pelos cabelos brancos – Juvêncio obtém autorização do Vigário para esclarecer o povo ao final das missas. Campanha encerrada, preparou-se para realizar aquilo que pensara.

Antes de votar no plebiscito, todos se conscientizaram que deveriam primeiro passar na casa de Juvêncio. A imensa fila foi formada desde às cinco da manhã, em frente à porta principal. Às 7:00h a porta é finalmente aberta. Ele aparece e explica como será realizada a visita.

Um por um, e ordeiramente, eles entram e em pouco tempo saem por trás. Estão reflexivos. Não tecem nenhum comentário. Permanecem silenciosos. Não se encaminham para a votação do plebiscito, mas dirigem-se para suas casas.

À noite corria de boca em boca o acontecido. O plebiscito perdera a sua razão de ser. A abstenção beirara os cem por cento. Com o decorrer dos dias, Bicuí voltou à paz costumeira.

Um jornalista, intrigado com aquela transformação, procura seu Juvêncio para saber a mágica que ele praticara. Sentado no tamborete, olhar distante e sorriso discreto, ele diz: ‘Foi tudo muito simples. Cada pessoa entrava lá em casa, seguia até o final do corredor, onde coloquei num grande espelho a pergunta: - QUEM MATOU JESUS? E diante desse espelho elas encontraram a resposta. Foi só. E a paz reinou outra vez.

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 30/01/2012
Código do texto: T3469832
Classificação de conteúdo: seguro