INVEJA
Sarah tinha uma vida perfeita. Era modelo internacional, ganhava milhares de dólares por desfile, já havia sido capa de quase todas as revistas de moda e beleza e tinha um patrimônio de milhões.
Sua beleza era uma dádiva: loira, alta, de olhos muito azuis, esguia e atlética. Sempre chamava a atenção onde quer que estivesse.
Era casada com um cirurgião plástico e tinha dois filhos gêmeos. À noite, em sua mansão à beira-mar, gostava de ler histórias clássicas para os garotos de cinco anos até eles dormirem, junto ao seu marido.
Maria tinha uma vida miserável: era feia, desempregada, morava em um apartamento fedido e cheio de baratas e nunca havia se casado. O cabelo era preto e crespo, mal-cuidado. A pele era tomada por espinhas e acne. As roupas eram velhas e puídas. Ela sempre chamava atenção nas filas de emprego, pela feiúra incomensurável.
A malfadada Maria atribuía toda a má sorte de sua vida pestilenta a uma amiga de infância que não lhe dera uma oportunidade. Que não lhe chamara para um entrevista em uma agência e fechou-lhe para sempre as portas do mundo da moda. O nome dela era Sarah...
As duas sen encontraram num desfile beneficente promovido pela agência de Sarah. Maria estava nos fundos e era difícil ver a "amiga" desfilando. Aliás, era quase impossível ver qualquer pessoa desfilando. Foi abrindo caminho na multidão de jornalistas e da plateia mas, por fim, ficou nas pontas dos pés e conseguiu vislumbrar Sarah em toda sua glória, produzida e causando inveja a todas as mulheres presentes. Sem dúvida, a estrela maior de todo o evento.
Aquela visão trouxe de volta a Maria um ódio do qual ela se esquecera. Ela nunca deixara de odiar Sarah, é claro. Mas fazia tempo que não remoía esse sentimento. Sentiu um calor no peito e um grande sentimento de injustiça tomou sua mente. Precisava chegar até ela. Necessitava dizer a Sarah tudo o que ela sentia e de como ela destruíra sua vida.
Foi difícil, porém Maria conseguiu evitar a segurança e entrar pelos bastidores até o camarim da modelo. Ninguém conseguiu descobrir, depois de toda a tragédia, como ela conseguira subornar o segurança. Encontrou Sarah tirando a maquiagem e soltando os cabelos. Maria ficou escondida atrás da porta entreaberta e admirou por alguns momentos a beleza de Sarah: parecia uma fada que vagava perdida pela Terra. Era realmente linda. Lembrou-se das vezes, quando as duas tinham onze anos, em que a amiga deitava a cabeça em seu colo para ter os cabelos escovados. E Maria se questionou, como fizera antes, como poderia odiar uma criatura de tamanha beleza. E foi aí que lembrou-se da traição daquela que considerava como "amiga".
Entrou no camarim e viu Sarah tirando um pequeno cochilo, surpreendendo-a ao tocar-lhe os ombros. A modelo virou-se assustada, pois ninguém podia entrar em seu camarim. Teve dificuldade para reconhecer Maria no início: alguém tão horrível não era a memória favorita de muitos. E já haviam se passado vários anos.
- Oi - disse Maria, sem emoção.
- Oi, Maria! - respondeu Sarah, tentando esboçar uma falsa felicidade e se perguntando como aquela figura horrível havia passado pela segurança.
- Os anos foram bons para você - observou Maria, tocando o rosto macio de Sarah.
- Sim - falou Sarah, tocando a mão de Maria em resposta. Estava aflita. Sentia que aquela mulher queria causar algum mal. Por que outra razão apareceria de surpresa depois de tanto tempo? Discretamente, retirou um predendor de cabelo feito de metal de dentro da bolsa que pretendia usar como faca...
Um silêncio pesado tomou conta do ambiente enquanto as duas mulheres se estudavam. Uma procurava a fraqueza da outra e tentava escolher o melhor modo de atacar.
A primeira a atacar foi Sarah. Conseguiu surpreender Maria e rasgar seu ombro com o prendedor de cabelo. O ferimento foi profundo e feio. Provavelmente, precisaria de alguns pontos depois.
Maria se encostou na parede, surpresa pela amiga ter tirado sangue.
Infelizmente para Sarah, Maria era mais forte e a esbofeteou, deixando-a caída no chão. Uma posição perfeita para o ácido sulfúrico que Maria retirou da bolsa em um vidrinho e atirou com vontade no rosto de Sarah.
O ácido agiu rapidamente, derretendo a face macia da modelo e queimando até o osso. O dano foi maior perto do nariz, corroendo quase totalmente a cartilagem. E vários outros respingos no rosto da modelo cuidaram para que ela jamais desfilasse outra vez.
Tocando o ferimento no ombro, Maria sentou na cadeira de Sarah e cheirou, em triunfo, o fedor de carne queimada. Sua vingança estava completa. Sentia-se plena.
Ainda com o ombro pulsando de dor, ajoelhou-se perto de Sarah, que chorava e gemia com a dor lancinante, assustada. Maria apertou com força o rosto ainda derretendo e disse: - Está linda!!