Pergunte à lua...
Pergunte à lua...
A literatura está repleta de histórias de casais que separam, voltam, separam... Um cônjuge mata o outro e tantas... e tantas... peripécias. Mas, nada se compara ao que aconteceu com John e Mary.
Mary, moça que parecia a todos um modelo de recato e meiguice foi abordada por John, numa paquera de rua. Ela fugiu e se refugiou na primeira porta aberta que encontrou. O jovem a seguiu e percebeu que ali era o seu ambiente de trabalho.
John perguntou a Mary se poderiam conversar em outro lugar. Preocupada com os olhares dos colegas de trabalho, passou seu cartão para livrar-se daquela incômoda presença.
Quase completando quarenta anos e muitos relacionamentos desfeitos, John atraía pretendentes pela beleza física. Loiro de um lindo olhar azul, cor do céu, parecia não combinar com a velha jaqueta de couro e sapatos furados de mesmo material.
Sentada à sua mesa da Casa de Empréstimos Consignados, onde trabalhava, Mary falou alto com os companheiros:
- Que cara estranho! Seguiu-me por todo o quarteirão. Tão bonito, mas tão andrajoso!
Ninguém se importou com a observação de Mary.
No dia seguinte, com o mesmo traje, lá estava John na esquina. Ela apressou o passo e entrou no trabalho. Desta vez ele desistiu e desapareceu. Mary ficou cismada por alguns dias, mas, o trabalho era intenso e acabou esquecendo.
Sua rotina de casa para o trabalho e do trabalho para casa foi quebrada quando, naquela noite, andando rápido para descontar o atraso de um cliente retardatário, viu despencar do bonde de Santa Tereza, um corpo bem à sua frente.
De coração agitado pela cena inesperada, nem percebeu a lua brilhando sobre os Arcos da Lapa. Parou para se recompor. Conhecia aquela roupa, aqueles sapatos... Não podia ser, ela estava equivocada pelo stress do dia desgastante de trabalho. Olharia ou não o rosto do infortunado homem? Um grupo de pessoas rodeou o infeliz. Mary quase sem perceber, olhou para o local de onde o homem caíra. Deparou-se com a luz fria da lua e não pode evitar uma exclamação diante daquele paradoxo. Por que uma coisa assim acontecia no coração da “Cidade Maravilhosa”, em um dos pontos mais bonitos do Centro? Naquele momento, um mendigo chegou com um cobertor e cobriu o corpo.
Mary ficou paralisada. Não conseguia sair do lugar. Com esforço deu alguns passos e ficou ali olhando o corpo coberto... Uma vontade enorme de desvendar a identidade da criatura. Seria alguém conhecido? Havia anos que trabalhava ali pela redondeza e nunca vira cena tão chocante.
Um curioso afastou a coberta e a moça pode ver o rosto de John ainda de olhos abertos, refletindo o luar dos Arcos da Lapa.
Benedita Silva de Azevedo
Rio de Janeiro
Pergunte à lua...
A literatura está repleta de histórias de casais que separam, voltam, separam... Um cônjuge mata o outro e tantas... e tantas... peripécias. Mas, nada se compara ao que aconteceu com John e Mary.
Mary, moça que parecia a todos um modelo de recato e meiguice foi abordada por John, numa paquera de rua. Ela fugiu e se refugiou na primeira porta aberta que encontrou. O jovem a seguiu e percebeu que ali era o seu ambiente de trabalho.
John perguntou a Mary se poderiam conversar em outro lugar. Preocupada com os olhares dos colegas de trabalho, passou seu cartão para livrar-se daquela incômoda presença.
Quase completando quarenta anos e muitos relacionamentos desfeitos, John atraía pretendentes pela beleza física. Loiro de um lindo olhar azul, cor do céu, parecia não combinar com a velha jaqueta de couro e sapatos furados de mesmo material.
Sentada à sua mesa da Casa de Empréstimos Consignados, onde trabalhava, Mary falou alto com os companheiros:
- Que cara estranho! Seguiu-me por todo o quarteirão. Tão bonito, mas tão andrajoso!
Ninguém se importou com a observação de Mary.
No dia seguinte, com o mesmo traje, lá estava John na esquina. Ela apressou o passo e entrou no trabalho. Desta vez ele desistiu e desapareceu. Mary ficou cismada por alguns dias, mas, o trabalho era intenso e acabou esquecendo.
Sua rotina de casa para o trabalho e do trabalho para casa foi quebrada quando, naquela noite, andando rápido para descontar o atraso de um cliente retardatário, viu despencar do bonde de Santa Tereza, um corpo bem à sua frente.
De coração agitado pela cena inesperada, nem percebeu a lua brilhando sobre os Arcos da Lapa. Parou para se recompor. Conhecia aquela roupa, aqueles sapatos... Não podia ser, ela estava equivocada pelo stress do dia desgastante de trabalho. Olharia ou não o rosto do infortunado homem? Um grupo de pessoas rodeou o infeliz. Mary quase sem perceber, olhou para o local de onde o homem caíra. Deparou-se com a luz fria da lua e não pode evitar uma exclamação diante daquele paradoxo. Por que uma coisa assim acontecia no coração da “Cidade Maravilhosa”, em um dos pontos mais bonitos do Centro? Naquele momento, um mendigo chegou com um cobertor e cobriu o corpo.
Mary ficou paralisada. Não conseguia sair do lugar. Com esforço deu alguns passos e ficou ali olhando o corpo coberto... Uma vontade enorme de desvendar a identidade da criatura. Seria alguém conhecido? Havia anos que trabalhava ali pela redondeza e nunca vira cena tão chocante.
Um curioso afastou a coberta e a moça pode ver o rosto de John ainda de olhos abertos, refletindo o luar dos Arcos da Lapa.
Benedita Silva de Azevedo
Rio de Janeiro