O machado

O barulho seco do machado cortando a arvore. O menino olha tristemente. O som seco, a dor. A seiva corre qual sangue da madeira. Não é só a arvore que chora. Geme a alma da criança ao ver seus sonhos sendo decepados pelo machado. O carrasco é o homem! Lágrimas caladas de uma alma acompanham pelo olhar cada golpe desferido pela mão impiedosa e o som ressoa ferindo. Estremece o corpo a cada golpe e o grito sai sem som. Os pássaros gemem, chorando, o ninho caído ao solo junto com os galhos que de uma só vez caem no chão. As aves gemem juntas com a alma do inocente que presencia a agressão à natureza. Anos de vida se vão em minutos, diminuindo o oxigênio do planeta. Quantas vidas ceifadas pela mão do algoz irresponsável e tolo. Dor. Solidão. Ironia. O instrumento de corte tem seu cabo feito pela mesma árvore que foi tirado de seus galhos anos antes. Quantas vezes o menino subiu em seus galhos e olhou o horizonte e sonhou. Os braços amigos da árvore embalaram seus sonhos e seus frutos, sua fome matou. O sabiá ali cantava ao entardecer. Quantos ninhos ali estavam e agora jazem no chão misturando as folhas secas do chão úmido, pela seiva da árvore agonizante ao solo. O pássaro voa em circulo desesperada procurando seu ninho sem entender o que se passa. O menino de olhos tristes olha o machado e o homem. Seu peito sobe e desce rapidamente, e a angústia o invade. Sonhos desfeitos e decepção. Vagarosamente se afasta à procura de um local para ficar só e pensar. A revolta de seu coração o faz caminhar sem destino. Não sente mais vontade de voltar ao lar. Nem sente os espinhos que seus pés nus pisam. Dor, perda e desilusão. Só resta chorar.
Dione Fonseca

Pós-escrito.
Quantas vezes o machado nos corta. Machado da inimizade, da traição, do desamor. Dos enganos e das decepções. Pobre do lenhador que impunha o Machado sobre o inocente indefeso. Triste destino do algoz.
DIONE FONSECA