HISTÓRIA DE BONECA
Toda história tem um começo, esta aqui teve o seu já pela metade, ou mais, do correr dos fatos...
Surgiu entre retalhos, linha, agulha e muito amor. Surgir não é a palavra mais apropriada... Talvez nascer, mas bonecas não nascem, se bem que esta poderia até ter nascido. Não nasceu também, estreou no mundo. Assim, ousada, atrevida, viva, falante e decidida a escrever a própria história. Esta que agora vou lhes contar.
Não é surpresa para ninguém que a maioria das bonecas é inanimada, mas esta aqui veio diferente: boneca por fora, gente por dentro. Já se tem registro de casos semelhantes, a exemplo do boneco do Gepeto e também da brasileiríssima boneca falante do Pica-pau Amarelo. Mas a nossa ainda é muito mais que diferente... Imaginem só: ela tem um coração! É um coração tão grande que foram precisos alguns ajustes para que coubesse em seu peito de pano. E lá, nesse coração, havia sempre muito aconchego para quantos chegassem...
Seus olhinhos pequeninos carregavam o brilho das estrelas... Ah... as estrelas... Elas me fazem lembrar de algo... Trata-se do episódio do nome. Escolher nomes é sempre tarefa difícil. Quando ela nasceu, digo, estreou, a confusão foi tanta que pensou-se até em deixá-la sem nome... Pura maldade! Chegou a chamar-se Maria, mas não pegou. Depois, Emília, pouco original... Nada feito, o nome dela teria que combinar com o tamanho da sua grandeza de gente, imensa como o... céu. Tudo acertado, foi batizada como Céu, porque é infinito, azul Celeste e por guardar a luz das estrelas!
Pois bem, Céu não teve infância, já nasceu gente grande, a vida quis assim. Mas por ter decidido desde sempre ser a autora da própria história, tratou de escrever que dentro do seu corpo de gente grande, a infância, outrora furtada, permaneceria latente e eterna. Então, se fez boneca, gente grande e criança, tudinho ao mesmo tempo e fez-se... FELIZ!
Quem possui uma alma infante cabe tão perfeitamente entre as crianças... E foi entre elas que Céu escolheu estar. Escreveu nas páginas do livro da sua vida que estaria sempre rodeada de muitas e muitas criancinhas.
Criaturinha muito interessante, mesmo onde não estivesse se fazia presente, com a sua alegria e irreverência – de tão irreverente, às vezes a gente tinha que ir lá naquele botãozinho que desliga brinquedo e desligá-la, para que ninguém enlouquecesse – Ela sabia bem enlouquecer alguém quando queria... e eu conheço bem intimamente as suas vítimas!
Vivendo entre as crianças, aprendeu a ser cuidadora delas, só não se sabia ao certo quem cuidava de quem... E continuou vida a fora escrevendo o seu destino e esparramando pelo planeta a sua marca da alegria de boneca gente.