Casada com um estranho.
- Quer mais café? - perguntou a mulher ainda lenta.
- Não, está fraco. - respondeu o marido com os olhos no jornal.
- E leite?
O homem fingiu que não ouviu.
Na mesa tomando café da manhã, encontravam-se eles em uma nova segunda-feira. Já não havia o que conversar entre os dois, ela se sentia ao lado de um desconhecido em um ponto de ônibus.
- O tempo está estranho, será que vai chover?
- No jornal não diz nada.
Talvez haveria algum assunto à noite quando ele chegasse do trabalho, ainda agitado com o dia. Mas por enquanto o silêncio estava sentado entre os dois.
Ela passava manteiga no pão se lembrando de como eles eram diferentes antes, lembrando de como tudo era motivo para conversar e dar risadas, havia o brilho no olhar. Agora ele não era feliz, ela também já não tinha mais certeza se era. Então perguntou-se em voz baixa:
- Quando nós deixamos o amor ir embora?
- O quê? - perguntou o marido lendo a seção de esportes.
- Nada, pensei alto.
Discutir aquilo era inútil, ele não a ouviria, nunca, por mais alto que a mulher gritasse ele não a ouviria.
O homem pelo qual ela se apaixonou se tornou apenas uma sombra distante. Mas como ela sentia falta do calor que ele emitia, das noites de amor e do seu sorriso doce de cada manhã. A mulher se questionava como ele tinha se tornado tão frio, seria culpa dela? Ela não sabia, apenas ficava quieta.
O silêncio a machucava, o seu marido havia se tornado um desconhecido. Não havia intimidade entre eles e não havia mais o que salvar.
Então, em uma outra manhã de segunda-feira, a mulher ao acordar olhou para ele e disse:
- Bom dia, quem é você?