A vida ao contrário
Ainda não esqueci... Mas, às vezes, parece que nem aconteceu. Sinto como se o tempo tivesse parado. E parou... Naquele instante, quase não senti dor, mas quando lembro, dói muito. Porém, outras vezes, ainda me encontro no mesmo lugar; sem desespero, sem tristeza, sem mágoas.
Quando me perguntaram o que tinha acontecido, eu não pude responder, pois era tudo tão estranho e diferente, que eu mesma não sabia. E então, de repente, escutei um leve sussuro, que repetia:
- Não tenha medo...
E ao longo do dia, fiquei ouvindo essa voz, que quase não falava, que quase não respondia, mas me trazia um grande conforto. Até agora, não descobri a quem pertence aquele susurro, mas consegui compreender tudo ao meu redor.
Antes, ainda perdida, questionei muitas coisas, mas quase não obtive respostas. Mas ao longo daquela madrugada, que parecia infinita, estive em vários lugares, onde consegui enxergar a vida de outra forma.
Estive no passado e percebi que tudo o que eu odiava, foi necessário acontecer. Há certas coisas, que não tem explicação; nem sempre é preciso compreendê-las.
Já não lembro mais qual era a minha idade, naquele momento. E ainda não sei quando vou voltar. Mas apesar de todo sofrimento, essa foi a única forma, através da qual pude perceber a vida como ela realmente é.
Ah, se eu pudesse... Se eu pudesse, reescreveria minha história com as mesmas palavras, mas com canetas de cores diferentes. Desenharia, novamente, os mesmos rabiscos e cantaria as mesmas canções; simplesmente, de um jeito diferente.
Pois é... Esta madrugada continua interminável! E alguns ainda não sabem que naquela noite, eu havia morrido...