Passarinho
Passarinhos
A terra quente, meu pé dói, alpercata curta. Venta na cara da gente. Morre o céu no fim da terra. Olho pra tudo. Dou uns gritos, estou feliz com tanta coisa no mundo. Meu pai na frente. Não ligo, vou devagar mesmo. tem mais passarinho andando devagar. Perto dele todos avoa, corre dele, ele empurra tudo com a espingarda. Tenho dó desses bichinho, que deixa o céu tão cheio de cor. A gente caça toda semana. Pra comer e tantas vezes pra vida ser boa.
O açude ta quase seco, os peixinhos mexe e deixa a água toda ondulada. Barrenta com o céu caido nela. Um pedaço só. Os das nuvens. Tem céu embaixo e encima. Um seco, outro molhado. Divertido olhar as coisas de cabeça pra baixo, até passarinho tem dentro da lagoa. Pá pá pá. Meu pai atira forte. Tem fome de matar passarinho. Não pega nenhum, erra todas. E os bichinhos sobe mais forte pro céu e mais fundo na água. Sento na beira do açude, de cansado, meu pai some na imensidão em direção ao sol. Terra morna. Sêca, mais verde, o chão, e tudo balançando, e eu só olho. Meu pai não. Não gosta de so olhar. Se não matar um nhambu. Cai numa tristeza canina. Cabisbaixo, nem no bar vai. Fica na porta com cigarro de palha. Um poste de luz, bem alto. Por isso ele fica na frente. Empurrando bucha e chumbo na espingarda. Aponta e erra. Repetidas vezes. Aponta, mira. Quer matar bicho voando, no ar. Arrisca arrogante. Eles vão embora. Depois do tiro. Até o vento parece parar. Um buraco grande arma no céu. Nada existe. Só o barulho que demora a se desfazer dos ecos. Eu rezo, pra mim, sozinho pra mim. Rezo pra bicho ver bala. Pra meu pai ver os bichos. Dedo com fome, que mexe em direção a tudo que mexe, que voa, que pia, tudo que não seja ele.
Queria que ele tivesse asas e bico, que voasse por essas bandas, que soubesse como é bonito la de cima. Que o céu dos passarinho é o chão de terra, lugar de descanso, respirar e comer sementes.
Voa pai, voa, bate os braços, forte, espera o vento, come alpiste, encolhe os braços. salta. Meu é pai não é um passarinho.