O Dia que o Ano Novo não Veio
Um dia especial que começa comum, tal como aqueles que vivemos sem nem mesmo perceber – e estes são tantos. As luzes coloridas do natal ainda ornamentavam as fachadas das casas, e o clima fraternal de fim de ano inundava as ruas com uma forte maré de alegria. Agora todos eram felizes em seu entusiasmo, e uma chama de esperança queimava dentro de cada coração.
O Sol se pôs e a lua veio, com seu brilho emprestado prateando o mundo cansado de tanto girar. A festa estava pronta: garrafas de champanhe, fogos de artifício e pessoas aguardavam seu momento, cada qual a sua maneira. Todos de branco; uma espécie de luto inverso, como se este fosse um dia de renascimento. Trezentos e sessenta e cinco dias haviam passado como um rolo compressor, estraçalhando projetos de vida, mas agora, no fim, ou melhor: no começo, surgiam novas esperanças.
“Dez”, diziam em coro, uns de pés esquerdos levantados, outros se preparando para pular ondas e etc. As rolhas das garrafas já sofriam leves pressões dos abridores impulsionados por homens eufóricos. Mas o “Um” jamais chegou, e as espumas do champanhe acomodaram-se em sua eterna prisão, e os fogos não enfeitaram os céus. Nenhum sino tocou, e as engrenagens dos relógios finalmente puderam descansar. Houve silêncio.
Por quê? Ninguém saberá dizer se no último momento a terra cansou de girar em sua tontura, ou se um Deus frustrado desistiu de tentar. O que se sabe é que o homem acabou da mesma forma que costumava começar: cheio de esperanças.