Assum Preto.
ASSUM PRETO.
Conto de Honorato Ribeiro.
As musas inspiram os vates nordestinos que gritam e bradam fortemente à defesa do bem comum e da ecologia; e buscam em seus versos madrigais e épicos e fazem a sua prosopopéia do sertão nordestino, onde o sol queima e a chuva escassa e o lavrador sua suor de rios; e com mãos postas aos céus reza rogando a Deus proteção.
Os poetas versejam e convidam os compositores para musicarem os seus versos, a fim de conscientizar o povo, cujo povo depreda a natureza, Luiz Gonzaga, o Rei do baião e Humberto Teixeira, que em seus versos contam a depredação ecológica da mãe natureza. É com esses versos que a gente conhece a maldade humana a chegar ao pico mais desumano ao furar os olhos do assum preto, para que ele cante melhor. Ele não canta, chora de dor e se sente injustiçado, indefeso, numa gaiola tirando-lhe a sua liberdade de voar e de cantar com seus olhos perfeitos. Ele chora, lamenta, clama por justiça e pergunta: “Que crime cometi para prender-me nessa maldita gaiola? Que crime cometi para furar o meus olhos? Quão maldade chegou o homem para cometer um crime me transformando num cego forçado a cantar para agradar o seu egoísmo?! Acham até bonito eu cantar por ter os meus olhos furados! Mas eu não canto, choro.”
A jumenta de Balaão, também lamentou a maldade daquele profeta, O profeta entendeu e não mais maltratou a sua jumenta.
Um dia, alguém que tivera pena de mim e abriu a gaiola e me soltou. Mas eu não soubera voar. Voar para onde? Bem dizia Carlos Drumonnd: “E agora, José? Você quer morrer, mas não morre”. Eu quero voar, mas não vôo. “Você, José, quer ir para Minas, mas não existe Minas”... Mas, eu, Carlos Drumonnd, estou cego. Não vejo, não vejo a luz do sol e nem meu habitat; não vejo as estrelas lá no céu! Até as árvores que eu pousava e fazia o meu ninho, não as vejo mais. Dizem que não existem mais... Tudo virou carvão! Desejei, agora, Carlos Drumonnd, ter os olhos de José para eu, “com a chave na mão abrir a porta”. A minha existe, Carlos Drumonnd, só que eu não a vejo, mas José a vê só não tem o direito de abri-la e entrar e se agasalhar. A culpa não é de Luiz Gonzaga e nem de Humberto Teixeira. Luiz Gonzaga fez sucesso com sua sanfona branca cantando e contando que furaram os meus olhos. Só que ninguém pode me socorrer e eu voltar a enxergar. Fizeram injustiça com José!? José que é semelhança de Deus! Eu não sou humano. Se fizeram com um humano, quiçá continuarão fazer comigo! O homem tem que se conscientizar para respeitar os direitos dos outros a viver em paz. Deixar que a natureza seja um presente que Deus lhe deu e tem que ser preservada com amor e carinho. Carlos Drumonnd, por que você não fez um verso pra mim? Pobre de mim, assum preto! Você ficou respeitado e se eternizou. Possa ser que meus irmãos não fiquem cegos para poder cantar e agradar o egoísmo do homem fera, que fere sem razão. Eu, assum preto, sou um cego sem razão de sê-lo pela maldade humana. Cante, Luiz Gonzaga seu CD; cante assum preto; o Brasil todo gosta dessa canção triste.
hagaribeiro.