ENTRE O AMOR E O ÓDIO
Já era tarde da noite quando Danilo chegou em frente ao portão. Afoito pelos carinhos da amada, foi difícil acertar o buraco da fechadura. O portão parecia uma intransponível muralha. Há um ano ele partira para os Estados Unidos, fora a trabalho, queria um futuro melhor para a digníssima esposa e os futuros filhos.
Não avisou que estaria de volta naquela data, queria pegá-la de surpresa.
Depois de chegar ao aeroporto na capital, foram mais nove horas de viagem de ônibus até a pacata cidade onde residia. Na cabeça as mais engenhosas fantasias de como seria surpreendê-la, chegando assim de repente no meio da noite sem prévio aviso. Por certo ela cheia de saudades iria explodir de felicidade. Fariam amor até que o dia amanhecesse. Por semanas não se afastariam um do outro, assim compensariam os momentos distantes.Imaginava suas mãos tocando aqueles cabelos negros, a sua boca naquela boca carnuda e macia, desfrutaria de toda aquela silhueta ardente e carinhosa.
A bagagem era farta, visto que trouxera um fardo de mercadorias importadas. Deixou tudo no terreiro.
Do portão da casa até a porta da sala parecia ter percorrido léguas, cada segundo parecia horas; veja só o que a saudade faz com a gente.
Pra não estragar a surpresa fez tudo no mais completo silencio, estava tudo perfeito. Tirou do bolso a chave da porta da sala, após três ou quatro tentativas acertou o orifício de abertura. As luzes estavam apagadas. Dirigiu-se pé por pé rumo ao quarto de casal, a luz do abajur dava pouca luminosidade. A porta estava semiaberta. Ainda em silêncio aproximou-se mais, sempre furtivamente, não queria assustá-la, a acordaria sutilmente com beijos.
Quando seu rosto divisou com o marco da porta a imagem foi estarrecedora... Não acreditava no que estava vendo, impossível! A sua tão preciosa joia de silhueta estonteante, a mulher a quem mais amava na vida, pelo menos até aquele momento, estava ali, mas não dormia, estava em meio a uma ardente cena sexual. Danilo pasmo olhava os dois amantes ali, nus sobre a sua cama, Pareciam tão apaixonados.
Lembrou-se por instante da noite de núpcias, das promessas e palavras obscenamente carinhosas sussurradas ao seu ouvido, das trocas de caricias e de toda aquela envolvente paixão que outrora lhe fora demonstrada.
Não acreditava no que estava a ocorrer diante dos teus olhos, mas sabia que era real. Era tanto calor e afago que os amantes nem perceberam a presença do intruso. O forasteiro observador ali era apenas a silenciosa e inerte plateia. Acabaram de ir por terra todos os seus planos, sonhos e ideais amorosos e afetivos relativos àquela mulher. Assim como entrara saiu: furtiva e silenciosamente.
Hoje, dez anos após ela ainda sem ter noticias do seu paradeiro chora sozinha pelos cantos. A cada avião que sobrevoa o céu da sua cidade ela o imagina retornando e jamais lhe passou pela cabeça o motivo de tão demorada ausência.
Saulo Campos
Itabira MG