O Rei e o Sósia.

O REI E O SÓSIA.

CONTO

Honorato Ribeiro.

“Certa vez um rei muito humano andava preocupado como seria a vida dos pobres, mas não tinha liberdade de sair e visitar as periferias da cidade; passar uns dias no convívio deles”. Mas, quando foi passar uns dias em seu sítio, avistou um mendigo igualzinho a ele: na estatura, na cor, os olhos, o cabelo; era mesmo o seu sósia. Parou e mandou seu escravo chamar aquele mendigo. Quando o mendigo chegou o rei lhe disse: Olha amigo, eu tenho uma proposta para lhe fazer. Eu vou trocar de roupas e você também. Eu visto a sua e você veste a minha. Você vai ficar aqui no meu sítio com todas as regalias de rei. Ninguém vai perceber que você não sou eu, o rei. Você ficará aqui me esperando até a minha volta. De agora em diante eu vou viver mendigando como você, pois eu quero sentir e viver como você. Somente assim eu saberei dizer como é mesmo a vida de um pobre miserável no meio social.

Assim, o rei, vestido de mendigo saiu a pé pelas ruas da cidade. Ao passar por uma das ruas havia uma festa dançante e muita gente rica. O rei mendigo aproximou e quis dá uma olhada na porta de entrada. Logo que aproximou da porta levou um empurrão o jogando no chão. Muitas gargalhadas ressoaram em toda praça e quem o empurrou disse-lhe: Saia daqui, seu fedorento mendigo. Aqui não é o seu lugar. Todos riram à beça. O rei se levantou, sacudiu a poeira e seguiu para outras ruas. Quando pedia uma esmola recebia a recompensa: Vá procurar o que fazer, vagabundo. Saia de porta em porta, pois já estava cansado, com fome e sede, mas as portas batiam em sua cara. Dias e noites atravessaram e somente sofrimento. Deitava-se no banco do jardim todas as noites, pois não havia ninguém que o agasalhasse. Comia alguma coisa para não morrer de fome ofertada pelos próprios mendigos como ele. Saiu da periferia da cidade e encontrou um casebre com a porta fechada. Ele aproximou e bateu na porta e gritou: Ô de casa! Saiu uma mulher maltrapilha, descalça, cabelos assanhados e respondeu: Oi, vamos entrar. Ele entrou e lhe pediu água. Ela pegou numa cuia e lhe deu para beber. Bebeu, pela primeira vez em sua vida, numa cuia velha sem higiene nenhuma, mas matou-lhe a sede. Depois lhe pediu comida, pois estava morto de fome. Ela lhe respondeu. Eu não tenho e não comi nada hoje. Espere o meu marido chegar para ver se ele traz alguma coisa para a gente comer. Naquele instante, a porta abriu e um homem sujo, maltrapilho de pés descalços entrou com uma velha vasilha cheia de comida. Era o marido da mulher. A mulher pegou outra vasilha e colocou comida e deu ao rei mendigo. Ele olhou e viu que era resto de comida que alguém ao em vez de jogar fora deu ao pedinte. O estômago embrulhou-se todo em repugnância, mas comeu e matou a fome. Dormiu numa esteira rota sem coberta, mas, como estivesse cansado, agarrou-se no sono profundo.

Quando amanheceu o dia, ele levantou-se e disse ao casal que lhe acolheu com amor e carinho: Vou revelar um segredo para vocês. Eu não sou mendigo. Sou o Senhor seu rei. Eu troquei as minhas vestes com um mendigo que parece muito comigo, a fim de eu saber como é a vida de uma pessoa pobre, miserável e também como é a sociedade. Agora já sei, pois sofri e senti na pele o descaso, a humilhação que faz contra pessoas, como vocês. Se eu estivesse vestido pomposamente como rei, seria aplaudido, respeitado e exaltado. Entretanto sou a mesma pessoa, somente as vestes fiquei invisível, desprezível pelos próprios súditos. Agora eu vou embora e não irei esquecer de vocês, pois foram os únicos que me acolheram. Vou lhe dá uma casa, roupas e, enquanto viverem irei sustentá-los.

O rei foi e chegando lá, trocou as vestes com a do mendigo, vestiu-se de rei e ninguém desconfiou que o mendigo fosse falso rei. Ao mendigo deu-lhe emprego, casa e roupa tirando-o de ser mendigo. Agora o rei ficou sabendo que a sociedade é hipócrita, pois, mesmo ele sendo um mendigo não deixou de ser o rei. Vestido como mendigo, não o receberam e nem reconheceram, por que roupa de maltrapilho é de mendigo e não de rei.” E é assim até hoje: “Se conhece o pau pela casca”, mas quem tem consciência é sábio e conhece o pau sem a casca.

Esse meu conto não é uma cópia de certo livro, que, quando eu era rapazola li; não sei quem é o autor e nem mesmo o título do livro. Mas a história se resume nesse conto, embora com outra redação fora do romance, Mesmo assim eu colocarei entre aspas o meu conto, a fim de que os que leem esse conto e leram o livro (...), não possa me acusar de plágio. Contei do meu jeito.

hagaribeiro. 16-04-2011.

Zé de Patrício
Enviado por Zé de Patrício em 27/04/2011
Código do texto: T2934310