Terezinha
A primeira vez doeu muito. Tive vontade de gritar, mas me calei. Senti tanta vergonha!
Pensei em me mudar, sair da cidade. O tempo foi passando e como não tinha mesmo pra onde ir, resolvi esquecer. Começar de novo pareceu-me a melhor solução.
Esmerei-me em cuidar de tudo. Não queria dar motivos. A casa sempre limpa, cheirosa, a comida bem feita, a roupa limpa e passada com capricho. Tudo perfeito. Não havia motivos. Mas mesmo assim não evitei uma segunda vez.
Fiquei alguns dias trancada em casa, até que as marcas sumissem. Até que ninguém mais além de mim, pudesse vê-las.
Pensei muito e concluí que a culpa era minha. Não estava sendo suficientemente boa. Tinha que procurar melhorar. Claro! Pensei novamente em ir embora. Não fui. Faria de tudo para que não acontecesse de novo. Seria mais eficiente desta vez.
Fiz uma dieta. Queria estar mais bonita, mais atraente. Quem sabe assim você se acalmaria... Não adiantou.
A terceira vez não tive como esconder de ninguém. As marcas eram tantas, o sangue era tanto que gritei. Reuni todas as minhas forças e gritei. Uma multidão apareceu pra me socorrer. Não entendi muito bem. Era como se eles já soubessem, como se apenas estivessem esperando meu grito.
Ouvi alguém dizendo “Tadinha! Tão boazinha, tão caprichosa... Apanhar desse jeito!”
Minha maior dor é nunca ter ouvido de você um pedido de desculpas. Não perceber em você arrependimento.
Por que não fugi? Por que não gritei antes? Não sei. A vergonha era tanta...