Cristal
Sou mulher. Às vezes minto. Não porque goste ou não tenha caráter, mas por absoluta falta de opção. Como dizer a verdade se ela vai magoar, ferir? Como dizê-la sem escandalizar a todos e a mim mesma? Sem preparação alguma, tornar-me outra pessoa?
Apresentar uma outra face de mim?
Sempre tive sonhos previsíveis, aceitáveis, conhecidos. Que personagem é esta que agora me invade e quer mudar tudo que sei de mim, trocar meus planos por outros?
Minto. A verdade é por demais devastadora, contraditória, infame!
Minto. Não quero conhecer a outra.
Minto. Não quero ser outra.
Sempre acreditei que era assim: bonitinha, comportada, amiga, companheira... Medíocre!
Minto. Espremo a outra com todas as minhas forças para dentro de mim. Fecho-lhe a boca, tolho seus sentimentos, crio um mundo em que ela não pode respirar. Mato-a sem dó, todos os dias.
Minto, mas venço! Não sou assim tão frágil! Iludo todo mundo, iludo a outra... Iludo a mim