Ele passa, sim, o tempo passa... (EC)
Alguém lhe disse que se queria recuperar o prazer de não sentir o tempo passar bastava jogar fora os relógios. Algo assim e foi o que fez: quando se decidiu pela mudança para aquela cidade deixou para trás todos os seus relógios, tanto os de pulso quando os de parede. Passou a viver seguindo o relógio natural do tempo e o seu relógio biológico. Dormia quando sentia sono, levantava-se quando acordava, comia quando sentia fome e bebia ao sentir sede. Uma vida pelos sentidos, pensou. Mas nem por isso o tempo deixou de passar...Tinha jogado fora também os espelhos, que era o número dois da lista de coisas para fazer e não ver o tempo passar. Sem relógio, sem calendário, sem espelhos. Só assim venceria o tempo e viveria com mais alegria. Não podia negar que conseguira se enganar por algum tempo. Lembranças não desapareceram, mas não doíam mais. Nenhuma angústia atropelava seus dias, provocada por algum estresse. Não precisava temer chegar atrasada, pois a hora era sempre aquela, a hora certa. E assim foram passando os dias, observando as mudanças da natureza. Dias tranqüilos onde viver, apenas viver era o que contava. Mas um dia... Um dia ela estava sentada junto a pedra em que se acostumara a sentar-se para refletir sobre as coisas que a cercavam. Sentiu calor, sentiu sede. Levantou-se calmamente e dirigiu-se ao rio cristalino que também caminhava em direção ao seu destino. Debruçou-se para colher a água, as mãos em concha. Foi então que ela se viu e qual um Narciso ao inverso, se assustou com o que viu: - quem seria aquela mulher que a fitava do outro lado da água? Naquela noite, depois de muito tempo, um dormir intranqüilo trouxe-lhe um pesadelo. Quando acordou, escreveu um poema:
Pesadelo
O rosto afogado
no fundo do rio
me chama.
O olho magoado
no fundo do rosto
me quer.
O rosto me chama
no fundo do rio
o olho me quer.
O rio.
O rosto.
O olho.
Bipartida me encontro de mim.
O olho no rosto
o rosto no rio
eu fora de mim.
Me encontro no rio
o rio no rosto
o rosto no olho
em mim.
http://encantodasletras.50webs.com/tempopassa.htm
Alguém lhe disse que se queria recuperar o prazer de não sentir o tempo passar bastava jogar fora os relógios. Algo assim e foi o que fez: quando se decidiu pela mudança para aquela cidade deixou para trás todos os seus relógios, tanto os de pulso quando os de parede. Passou a viver seguindo o relógio natural do tempo e o seu relógio biológico. Dormia quando sentia sono, levantava-se quando acordava, comia quando sentia fome e bebia ao sentir sede. Uma vida pelos sentidos, pensou. Mas nem por isso o tempo deixou de passar...Tinha jogado fora também os espelhos, que era o número dois da lista de coisas para fazer e não ver o tempo passar. Sem relógio, sem calendário, sem espelhos. Só assim venceria o tempo e viveria com mais alegria. Não podia negar que conseguira se enganar por algum tempo. Lembranças não desapareceram, mas não doíam mais. Nenhuma angústia atropelava seus dias, provocada por algum estresse. Não precisava temer chegar atrasada, pois a hora era sempre aquela, a hora certa. E assim foram passando os dias, observando as mudanças da natureza. Dias tranqüilos onde viver, apenas viver era o que contava. Mas um dia... Um dia ela estava sentada junto a pedra em que se acostumara a sentar-se para refletir sobre as coisas que a cercavam. Sentiu calor, sentiu sede. Levantou-se calmamente e dirigiu-se ao rio cristalino que também caminhava em direção ao seu destino. Debruçou-se para colher a água, as mãos em concha. Foi então que ela se viu e qual um Narciso ao inverso, se assustou com o que viu: - quem seria aquela mulher que a fitava do outro lado da água? Naquela noite, depois de muito tempo, um dormir intranqüilo trouxe-lhe um pesadelo. Quando acordou, escreveu um poema:
Pesadelo
O rosto afogado
no fundo do rio
me chama.
O olho magoado
no fundo do rosto
me quer.
O rosto me chama
no fundo do rio
o olho me quer.
O rio.
O rosto.
O olho.
Bipartida me encontro de mim.
O olho no rosto
o rosto no rio
eu fora de mim.
Me encontro no rio
o rio no rosto
o rosto no olho
em mim.
http://encantodasletras.50webs.com/tempopassa.htm