O jardim de uma Campina
O verde de horizonte a horizonte dando uma harmonia paradisíaca naquela planície. O sol forte brilhava no céu. Nuvens brancas e aveludadas caminhavam sem destino acima. Algumas borboletas voavam em busca de algumas flores que hoje seriam sepultadas ali. Borboletas azuis, amarelas, de cores diversas. Algumas poças de água límpida. Um espelho colado ao chão. Espelho que mostrava a imagem azul do céu naquele momento. Espelho que ao por do sol estaria escarlate. Espelho que terá como companhia, cavaleiros tombados ao lado. Onde o sangue que brotava de suas chagas cairia em suas límpidas águas tornando-as malditas.
Espadas empulhadas em mãos trêmulas. Ao certo alguém ali, há alguns metros de distancia, estaria pronto para levá-lo ao a morte. Alguém ali entre aqueles milhares de guerreiros na sua frente na certa iriam impedir de ver os filhos crescerem. Os olhos fortes e dentes cerrados para não demonstrar o coração palpitante de medo. Atrás numa fileira um pouco mais distante, uma lágrima descia de olhos trêmulos. Ou um pouco mais a frente alguém admirava uma ave no céu. Um inimigo à frente, escondido entre muitos, rezava para seu deus. Agradecendo o grande desempenho e habilidade com a espada. Ou outro guerreiro acreditava que na certa derrubaria muitos homens com o arco herdado do pai. Na frente de todos os guerreiros, um rei. Rei este que demonstrava lealdade aos companheiros de batalha, que era mais rei que o do outro lado, mas que gostaria de está em seu trono, vendo o tempo passar em seus olhos. Rei que gritava palavras de encorajamento, palavras que não podia ser ouvida em algumas fileiras atrás.
Podiam estar algumas centenas de metros distantes. Onde um grande jardim verde os separava. Não se conheciam. Mas o que impediriam de ser amigos. Algumas dezenas de ambos os lados ainda não sabiam o motivo daquela batalha. Os reis que sozinhos resolvem-se seus problemas. De um lado tinha alguns camponeses que mal sabia levantar uma espada. Do outro lado um alfaiate e um ferreiro. Assim como uma garota que queria vingar a morte da mãe.
Tambores eram batidos. Gritos de ambos os lados. Era uma maldita sinfonia ao ouvido de qualquer um. Alguém agitava a espada, como uma bandeira. Ao som de gritos de um dos lideres, forma-se a formação de batalha estudada. Do outro lado o mesmo. Flechas cortavam céu, uma negra nuvem pontiaguda choveria sobre o inimigo. Às vezes absorvidas pelo escudo, às vezes pela pele do corpo. Gritos de dor. Sangue. Mais gritos, agora de alegria do outro lado. “vocês iram sucumbir” gritou alguém. Galopes e mais gritos. Dois rios que se encontram. Rios de homens. Cavalo e cavaleiro tombando ali. Choro de alguém que estaria abraçado pela morte. O fôlego se foi de um rapaz que casaria em poucos dias. E que prometera voltar. Mas não cumpriria a promessa. Mas gritos. De alguém que matará um ser humano pela primeira vez, mas não notará outro inimigo a galope em suas costas. Lembra-se da poça de água límpida. Pisoteadas por homens e animais. Agora virara uma poça de sangue. Alguém olhava o céu, notava as nuvens brancas. Realmente tinham as formas que desejavam. Bastava ter imaginação. Ali no chão a dor da espada perfurando o pulmão se foi. E as nuvens apagaram-se. E os olhos abertos não viam mais nada.
Na aldeia, que não era muito longe. Uma mulher fazia o porco assado que o marido tanto gostava. Ás vezes gritava com o filho, notara o quanto parecia com seu marido. Mais o marido apesar de esforça-se tanto, ter derrubado muito inimigos, caiu. Tombado. Morto. Uma lágrima brota dos olhos verdes da mulher. “O que foi mamãe... não farei mais isso, prometo” dizia o garoto. À frente, atrás de uma pequena cabana de palha, uma jovem ao tomar o banho via o quanto a barriga crescia, esperava o amado chegar para contar da criança que esperava. Ele prometerá voltar e não quebraria a promessa. Nunca havia quebrado promessa nenhuma.
Num outro povoado, muito distante. Um filho esfregava o colar que o pai dera. Esperaria ali sentado a chegada de todos. Seria o primeiro a ver o pai. Correria e o abraçaria. A mãe fazia o jantar, para ambos comerem. Não sabia ele que o pai decaiu. Uma flecha o acertara no coração. Num outro canto um velho se enforcará ao saber que sua filha tinha ido vingar a morte da mãe. No castelo a rainha transará com seu amante, não ligava... Não imaginava que o rei, com quem casará, estava morto no campo de batalha.
Num lago povoado por cisnes. Onde a neblina fina cobria o chão. Uma garota esperava seu marido. Seus olhos azuis imploravam aos céus que o trouxessem para casa vivo. Não saberia como iria viver sem ele. Era bom guerreiro. Mas há tantos inimigos com igual, ou melhor, habilidade. As lágrimas caiam no lago. Faziam pequenas ondas, que distorciam seu rosto lindo. Suas mãos tremiam. Esperava que a pulseira dada a o marido desse sorte. Sempre dava a ela, por isso deu a ele. Pois o amava. Antes sorte a ele, que a ela.
Cavaleiros caídos. Sangue, poças de sangue. Lago de sangue. Aqui e ali morte, onde havia verde. Não se via borboletas em busca de alimento em flores. Agora apenas aves em busca de alimento morto no chão. Algumas palavras sussurradas antes de silencia-se para sempre. Alguns gritos de clemência. Alimento para ratos e outros animais no campo aberto. Espadas empunhadas em mãos frias. Uma flecha quebrada e enfiada no peito. Bandeira antes movida pelo vento, na ponta de uma lança, estava fincada no chão. Estática.
E no meio de muitos outros silentes. Olhos abertos para o infinito. Lágrimas secas. O coração calado. Cabelos escorridos em sangue. Onde sempre brotara um sorriso para a amada agora era apenas um lábio roxo. Sem vida. Na mão a pulseira ela havia dado a ele para trazer sorte. E trouxe. Derrubaram muitos. Sua habilidade era impressionante. Mas no fim não voltaria para aquele colo acolhedor e doce de sua mulher.