O encontro

Certo dia, numa dessas minhas andanças, cruzei com uma ilustre figura. Era o verdadeiro Cristo, e tão logo nos cumprimentamos, passamos a dialogar.

-Salve, ó verdadeiro Cristo. O que fazes nestes arredores? Faz muito tempo que não o vejo por aqui.

-Saudações Sr. F! Faz um tempinho mesmo que não circulo por estes lados. Minha vida anda meio corrida ultimamente. Ando visitando muitas pessoas e fazendo diversas peregrinações. Mas diga-me, o que você anda fazendo ultimamente?

-Estou escrevendo bastante. O universo tem-me favorecido nestes dias e as idéias fluem intensamente. Quero terminar de escrever meu livro sobre a ascensão do Homem-Deus.

-Hum! Vê-se que está para surgir uma obra e tanto.

-É verdade. Mas ainda bem que te encontrei. Eu estava precisando ter uma conversa contigo para poder finalizar minha obra, pois existem umas lacunas que não foram preenchidas para que a obra venha à luz.

-No que eu poderia ajudá-lo Sr. F?

-Gostaria que você me explicasse no que constitui sua doutrina, pois este é um ponto essencial para desfazermos o grande equívoco que fizeram de sua imagem.

-Excelente questão. O equívoco, Sr. F, está no aspecto fundamental da doutrina cristã, quando dizem que sou o Filho de Deus.

-Certamente.

-Eu nunca fui e nem serei o Filho de Deus.

-Isso quer dizer que em suas peregrinações você nunca se proclamou o Filho de Deus?

-Não, nunca. Aqueles tolos não compreenderam nada e distorceram tudo. Eu sempre disse que neste corpo reside o Homem-Deus.

-Então você está afirmando que alteram seu discurso, criaram um arquétipo seu e distorceram todas as suas palavras?

-Sim, isso mesmo. E para divulgarem estes equívocos criaram o Cristo Podre.

-E no que consiste a doutrina do verdadeiro Cristo?

-Sempre afirmei que, por ser o Homem-Deus, sou toda a extensão do infinito em mim. Não há um pai lá no céu como eles dizem, ou uma mãe na terra. Tudo o que existe é o Homem-Deus, ou seja, a própria Cruz, e isto implica os contrários.

-Como?

-O ser humano, justamente por ser a emanação do Homem-Deus, tem dentro de si dois abismos.

-Dois abismos? Isto seria similar a ideia de Céu e Inferno?

-Certamente, mas não é tão simples assim de explicar. Este Céu e Inferno não são duas extremidades separadas por um imenso vácuo como se supõe. Os dois imbricam-se constantemente e até se confundem.

-Acho que entendi. No momento que há essa união entre eles creio que surge o Homem-Deus no homem. O raciocínio é este mesmo? É esta a ideia?

-Sim, isso mesmo. O Homem-Deus é a união dos dois abismos. O grande se manifesta no pequeno, e aí sim, de fato, acontece o que os cristãos chamam de estado de graça.

-Seria, também, a união do masculino e feminino ancestral?

-De fato é isso mesmo o que ocorre. O homem quando alcança esse estado superior torna-se o Homem-Deus, pois tudo emana dele e vai para o cosmo, e também ocorre o inverso.

-Ele se une com o todo?

-Sim, ele entra numa profunda simbiose com a natureza e passa a sentir tudo o que ocorre no mundo, porque seu corpo se torna uma espécie de canal que passa a ligar o grande ao pequeno.

-E como podemos fazer para alcançar esse estágio superior?

-Desfazendo o equívoco. O homem deve matar a ilusão deixada pelo Cristo Podre. Ele tem que ser extirpado da mente, ou seja, deve-se matar a falsa Cruz.

-E depois que o falso Cristo for destruído, o que fazer?

-O próximo passo é descobrir os contrários dentro de si e tentar harmonizá-los com o universo. Feito isso, o homem passa a sentir como se o universo todo estivesse dentro dele. Este, amigo, é o grande no pequeno, pois não existe uma barreira intransponível entre ele e o universo, mas o contrário, o cosmo a todo instante comunica-se com o homem, mas para que a interação de fato ocorra, o Homem-Deus tem que estar manifestado.

-Agradeço-te meu amigo pelas grandes palavras de sabedoria.

-Que é isso Sr. F, esta nossa conversa foi muito prazerosa, e acredito que estas minhas palavras sejam o suficiente para preencher as lacunas existentes na sua obra.

-Você me explicou a essência do que constitui o Homem-Deus. Agora tenho como finalizar minha obra e poderei mostrar ao mundo as palavras proferidas pelo verdadeiro Cristo.

-Agora Sr. F preciso ir. Desejo-te muito sucesso com o livro.

Em seguida nos despedimos, ele seguiu seu caminho e eu o meu em direção à minha casa, pois havia um livro para finalizar.

Daniel Tomaz Wachowicz
Enviado por Daniel Tomaz Wachowicz em 08/01/2011
Reeditado em 18/04/2015
Código do texto: T2716137
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