O Último Sorriso
Ela sorriu, no mesmo instante em que pude ver a vida desaparecer do seu olhar. Fora seu último suspiro, o último abraço, o último dia sem saber que a morte a esperava. E eu? Meus olhos não viam nada, eu estava cego; o meu coração parecia não palpitar, mas eu continuava vivo segurando em minhas mãos a mulher que eu amava. A boca que uma vez me beijara estava coberta de sangue, repleta de morte, dor e solidão. Eu estava só, tanto tempo esperando e ela estava caída em meus braços como uma rosa caída em seu jardim; sem o brilho que sempre a cercara.
Em seu corpo o sangue ainda parecia vivo e minhas mãos ensanguentadas tentavam limpar do meu corpo tudo o que acontecera. Mas foram elas que causaram tudo aquilo, não fora eu. Eu não mataria a mulher que era a minha vida. Mataria? Não. Não havia um por que pra tudo aquilo. Eu só queria senti-la novamente ao meu lado, mas eu retirei dela o pouco de vida que ainda restava.
Sim, eu matei a mulher que era a razão para que eu continuasse vivo. Agora, já não sou necessário por aqui. Devo encontrá-la e pedir desculpas pela faca que atravessei em seu corpo. Foi um acidente, um mero acidente; eu não faria mal a ela. Eu fiz. Ela havia jurado que não me deixaria! Aquela mulher iria me deixar, eu tive que fazer isto, ou encontraria nos braços de outro tudo o que eu tinha pra oferecer.
Mas no momento em que eu a abraçara e com a faca a ferira, ela disse que me amava. Era tarde demais, o sangue já estava correndo seu corpo afora e em seus lábios o sangue ainda estava escorrendo. Atrevi-me a tocá-la com meus lábios, o gosto de sangue permaneceu em minha boca por um certo tempo, mas aquele havia sido o beijo que eu esperara pelos 17 anos de minha vida. O tempo parou. Pude perceber que apenas eu estava respirando. Silêncio... Sem gritos, sem choros, sem nada; à não ser o seu sorriso. Sua alma havia partido e a minha partiu com ela.
Direi adeus nesse momento, estou indo encontrá-la. Em minhas mãos seguro a faca maldita e no coração um vestígio de esperança.