Você é Aquilo que Acredita Ser
Ana não suportava mais sofrer. A cada dia que passava, ficava mais furiosa com Deus. Zangava-se por Ele tê-la feito ficar diferente das outras crianças. Ela tem dez anos, mas ao completar cinco anos, sofreu um acidente e perdeu parte significativa da visão. “Por que eu?” era a constante pergunta que pairava pela sua cabeça. Por fim, cansou-se de conversar com Deus e não obter respostas e decidiu criar um mundo só seu. Um mundo maravilhoso, no qual ela podia enxergar tudo e todos. Em seu mundinho, ela era a Rainha e as crianças que a maltratavam na escola eram seus súditos feios e cegos.
Ana viveu durante muito tempo sozinha em seu mundo particular, excluída de tudo. Até que um dia, no seu aniversário de doze anos, ganhou mais do que podia esperar: uma cirurgia reparativa. Ela estava radiante de felicidade. Tudo correu perfeitamente bem durante a cirurgia, e Ana finalmente pôde realizar seu grande sonho de voltar a enxergar. Descobriu que estava mais bonita do que imaginava: seus olhos eram muito negros e intensos, seu cabelo também muito negro, descia até seus ombros, emoldurando seu lindo rosto simétrico e sua boca carnuda dava um toque de elegância à sua face. Também percebeu que seus pais eram exatamente como havia imaginado que teriam ficado: sua mãe parecia um anjo com seu cabelo curto e louro e com seus olhos atentos, quase desconcertantes. O pai, muito alto, com cabelos e olhos negros parecia mais um galã de cinema. Ana, por muitas vezes, VIA-SE olhando atentamente para os pais, tentando lembrar cada detalhezinho, por medo de um dia talvez, voltar a ficar cega. Não gostava de fechar os olhos nem para dormir! Dormia com um olho aberto e outro fechado, só por precaução.
A menina estava tão contente com sua visão, que esquecera-se completamente de seu mundo isolado. Porém, estava mesmo era preocupada com o retorno às aulas. “Será que vão parar de me importunar?” “Será que vou fazer muitos amigos?” era o que se perguntava.
Finalmente, chegou o tão esperado de voltar à escola e Ana ficou completamente chocada (ou seria magoada?) quando ninguém percebeu que ela agora enxergava. Foi sua mãe que lhe deu a resposta “É claro que ninguém poderia ter percebido, Ana, você era exatamente assim antes da cirurgia. A única coisa que mudou mesmo, fora você ter recuperado a visão, foi a sua atitude.”