A Lanterna (EC)
Ele parou o carro na entrada do pequeno povoado abandonado. Viera procurá-la muito tempo depois da última vez em que se viram. Durante muitos anos buscara por ela, em vão. Depois parara de procurar, mas nunca se conformara. Tinha desaparecido, evaporado. Não sabia se estava viva ou morta. Até o mês passado, quando a notícia de que estava viva fora como um soco no estômago. Foi seu irmão quem a viu, misturada a multidão que comemorava o Jubileu das Almas Perdidas naquele lugar ermo. Eu não me apresentei, disse o irmão. Não queria assustá-la e fazê-la desaparecer de novo, então, quando a vi, me escondi. E a segui, até que a vi entrando na última casa da Rua Principal. A casa junto ao Rio. Ele então decidira que precisava vê-la. Precisava encerrar aquele ciclo para poder continuar a viver em plenitude, não só a metade. Porque era assim que ele vivia, metade no presente, metade no passado. Mas agora estava indeciso. Já era noite e nem havia estrelas, nem havia lua. O silêncio era grande, o silêncio que não mais habitava as cidades. Só ouvia os barulhos da natureza. O grilo. O sapo. A cigarra. Tudo tão longe e distante, tão perto e amedontrador.
Apagou os faróis do carro depois de ocultá-lo em uma reentrância do caminho. Sabia que era impossível ter sido visto do povoado, que ainda estava bem distante.. O irmão lhe orientara. Desça uns cem metros e depois vire à direita. Logo você encontrará as primeiras casas. Ele fez isso apesar do receio. Tudo estava tão escuro que a brancura das casas era um alento. Casas tão baixas que, de onde estava, ele pensou: vou poder olhar o telhado sem levantar a cabeça. Continuou a andar, descendo e percebendo: são baixas, mas nem tanto. Mas qual seria a casa dela? Então de repente ele viu a lanterna. Estava colocada no peitoril de uma das janelas de uma casa pequenina e branca, como as outras. Uma lanterna, ele pensou. Ela continua gostando de lanternas, usando lanternas. E então as lembranças soterradas pelo tempo vieram de forma avassaladora e tomaram conta de seu corpo que tremia todo. Os cães começaram a latir, ele não sabia se para amedontrá-lo ou porque sentiam medo dele. Foi então que ouviu a voz inesquecível, vinda da sua retaguarda: Eu o estava esperando, por isso deixei a lanterna acesa.Para guiá-lo.
Ele parou o carro na entrada do pequeno povoado abandonado. Viera procurá-la muito tempo depois da última vez em que se viram. Durante muitos anos buscara por ela, em vão. Depois parara de procurar, mas nunca se conformara. Tinha desaparecido, evaporado. Não sabia se estava viva ou morta. Até o mês passado, quando a notícia de que estava viva fora como um soco no estômago. Foi seu irmão quem a viu, misturada a multidão que comemorava o Jubileu das Almas Perdidas naquele lugar ermo. Eu não me apresentei, disse o irmão. Não queria assustá-la e fazê-la desaparecer de novo, então, quando a vi, me escondi. E a segui, até que a vi entrando na última casa da Rua Principal. A casa junto ao Rio. Ele então decidira que precisava vê-la. Precisava encerrar aquele ciclo para poder continuar a viver em plenitude, não só a metade. Porque era assim que ele vivia, metade no presente, metade no passado. Mas agora estava indeciso. Já era noite e nem havia estrelas, nem havia lua. O silêncio era grande, o silêncio que não mais habitava as cidades. Só ouvia os barulhos da natureza. O grilo. O sapo. A cigarra. Tudo tão longe e distante, tão perto e amedontrador.
Apagou os faróis do carro depois de ocultá-lo em uma reentrância do caminho. Sabia que era impossível ter sido visto do povoado, que ainda estava bem distante.. O irmão lhe orientara. Desça uns cem metros e depois vire à direita. Logo você encontrará as primeiras casas. Ele fez isso apesar do receio. Tudo estava tão escuro que a brancura das casas era um alento. Casas tão baixas que, de onde estava, ele pensou: vou poder olhar o telhado sem levantar a cabeça. Continuou a andar, descendo e percebendo: são baixas, mas nem tanto. Mas qual seria a casa dela? Então de repente ele viu a lanterna. Estava colocada no peitoril de uma das janelas de uma casa pequenina e branca, como as outras. Uma lanterna, ele pensou. Ela continua gostando de lanternas, usando lanternas. E então as lembranças soterradas pelo tempo vieram de forma avassaladora e tomaram conta de seu corpo que tremia todo. Os cães começaram a latir, ele não sabia se para amedontrá-lo ou porque sentiam medo dele. Foi então que ouviu a voz inesquecível, vinda da sua retaguarda: Eu o estava esperando, por isso deixei a lanterna acesa.Para guiá-lo.