Bem ditos
Lavou a alma e estendeu-a para secar no varal, mas antes tirou de lá as chuteiras que havia pendurado. Quando se voltou para guardar o que era dela, pois quem guarda tem, sem querer chutou o balde.
Entrou em casa de ferreiro e se espetou com o pau, mas não chorou, e assim não mamou. Tirou o bode da sala e colocou cada macaco no seu galho, pois esperava que lhe quebrassem um. Para esperar, sentou-se, sabendo que alcançaria, sempre. Mas, como cedo madrugava, Deus a ajudava e dava o frio conforme o cobertor do momento.
Levantou-se e olhou o moinho parado: as águas haviam passado. E eram águas moles, pois haviam furado a pedra dura. A pedra que ela jamais jogaria no telhado do vizinho, visto que o seu era de vidro. Aliás, era de vidro também o anel que ele lhe dera uns meses antes que se acabasse o amor que ele lhe tinha, que era pouco.
Ele lhe parecia bonito, pois, ainda que fosse feio, amava-o. Comprou-o por não conhecê-lo; depois de falar o que queria, ouviu tudo o que não queria e mesmo assim nada teve, porque tudo quis.
Mas, um dia após o outro, descobriu que espantava seus males cantando. Assim, foi a Roma com sua boca e deu a César o que de César era. Arriscou, petiscou e riu melhor, já que por último.