Preconceito
As duas senhoras estavam sentadas no banco da frente do ônibus. Falavam alto. Marcelo sentou-se logo atrás e começou a escutar o que diziam.
- Eu não gosto nem um pouco dela. Aquela preta horrorosa!
- Verdade. Tão preta que chega a brilhar. Me dá até nojo!
- E o pior é que ela vai entrando sem avisar... a gente chega até a se assustar com a presença dela.
- Na sua casa também? Olha... Outro dia entrou na cozinha e comeu o doce que deixei em cima da mesa. Que enxerida!
-Nem fale. Negrinha petulante. E o meu marido fica muito irritado quando falo nisso. Ainda bem que você me entende, Eulália.
-Humpf! Homens!
Marcelo sentiu-se indignado. Não pode evitar um comentário:
-Senhoras... desculpem, mas eu ouvi o que falavam... sabiam que racismo é crime?
Ambas as mulheres voltaram suas cabeças para trás.
- Não posso deixar de comentar sua atitude racista. Como podem julgar uma pessoa pela cor de sua pele? Como podem barrar a entrada de uma pessoa por causa de sua ascendência africana? Isso é um absurdo, muito me espanta que duas senhoras distintas ajam assim...
As senhoras se entreolharam e a mais nova respondeu:
- Meu filho, não estou entendendo... ninguém está julgando ninguém... aliás, sou neta de africanos, e minha amiga Eulália aqui é casada com um senhor negro descendente de escravos...
- Mas como? Eu ouvi as senhoras dizendo que...
- ...Que não gostamos de barata. Você gosta?