O Caminho (sozinho)
Procurei, procurei... ali estava... duvidei. Era mesmo? Sentei na primeira pedra que vi a minha frente. Estava postada bem no meio do caminho. Era um obstáculo? Mas era pequeno, fácil de pular. Podia contorná-la também. Bom isso era o de menos... ou não? Olhei para trás e depois pra frente. Cocei a cabeça. Respirei, só então me dei conta de que sentia um cheiro bom de terra molhada. Olhei para o chão. A terra estava úmida e nas beiradas do caminho eu via o verde do musgo, este beirava as gramíneas que ali nasciam. Fechei os olhos, agora ouvia o som do vento suave. Ouvia também o som das águas que não estavam ali por perto, corriam em algum lugar mais à frente. Pensei comigo, nada pode ser tão simples assim. Refleti sobre o quanto eu havia procurado... ainda não era o bastante... calma, calma – disse pra mim mesmo – veja bem, já estou aqui. Demorou muito. Também pudera, não tive orientação... minto! Tive sim, mas do que lia, do que eu ouvia, do que conversava. Não tive um mestre diretamente. Espera! ... é isso, pode ser que encontre o mestre aqui no caminho... olhei pra frente, não via o fim dele... subia e descia, fazia imensas curvas até se perder no horizonte. Suspirei alto. Muito trabalho... quase desanimei. Proibi-me. Nada me deteria... animei-me. Calma, calma – disse pra mim mesmo – não posso me desesperar, tenho que calar minha ansiedade. Imediatamente outro pensamento me veio à mente. Lembrei de algo da infância, um insight talvez. Não, não – me disse novamente – concentre-se. Assim o fiz, bom, tentei... outro pensamento. O cheiro me lembrava de algo do meu passado. Devia ser qualquer coisa, sempre gostei do cheiro de terra molhada, de pasto, de esterco de vaca. Não fui criado em roça, não nasci lá, mas meus pais eram e sempre me levavam pra visitar os parentes. Caramba! Pensei exclamando, como minha mente estava ficando avoada. Calma, calma, calma, estou só emocionado, empolgado com minhas novas descobertas. Já passei por isso outras vezes, já devia ter acostumado... hum! A quem estou querendo enganar, sempre fico assim com um novo começo, uma nova etapa. Mas isso é sentir a emoção, não estou aqui pra isso, pelo contrário, estou aqui pra entendê-las. Ok! Vamos lá então... respirei fundo... não contive um sorriso por causa do cheiro... passei por isso rapidamente. Respirei novamente, mais centrado... posicionei-me de maneira confortável, a altura da pedra ajudou-me a cruzar as pernas facilmente. Postei-me com a coluna ereta... estava relaxando. Repousei a mão direita sobre a esquerda e respirei novamente... meus sentidos começavam a se desligar. Um calafrio percorreu-me a espinha. Mais uma vez... mais concentrado... mais uma respiração... já começava a sentir-me ausente... abri meus olhos de uma só vez. Estava consciente de todo o presente daquele instante. Meu corpo emanava calor... sentia a brisa como estando ali, viva a me tocar, me cumprimentando. Agradeci o gracejo. Em seguida senti o sol, tocava o topo de minha cabeça com suas mãos, estava me abençoando... agradeci também. Observava o caminho agora com minha percepção ampliada. Gostava do que via. Ponderei. Veja disse a mim mesmo. Não posso partir, não ainda. Este é o início da minha jornada, quando a iniciar, não estarei mais aqui, no começo. Sorri internamente. Senti-me parte do local, abraçava o universo e ele a mim. Não estava mais ansioso, não sentia mais os meus sentimentos, estava calmo, sereno, descansado, energizado, revigorado, pronto. Pisquei meus olhos. Voltei ao meu consciente presente, sem contudo abandonar o meu progresso. Levantei-me calmamente. Olhei para meu acento, meu obstáculo. Não o julgava mais um simples obstáculo, entendi sua natureza. Podia contorná-lo, podia saltá-lo, mas não podia movê-lo. Esta era a minha primeira lição. Observei a pedra e compreendi a ponta de uma enorme rocha cravada na terra, a “ponta do iceberg”, O início da minha grande jornada...