Procura-se a garota: Parte II (A história)

Olá.

Eu sou o cara que publicou o anúncio no jornal, lembra?

“Procura-se a garota”.

A idéia até que foi legal... meio ingênua, mas foi uma boa idéia.

Bem, dizem que quem procura acha, não é? Pois é... mas a minha história seguiu um rumo inesperado e passou bem longe de um final feliz.

Lembra do anúncio? Tinha os versos e tudo mais... é o tipo de coisa cafona mas que funciona, por mais que nos digamos modernos ou demonstremos essa frieza que os dias de hoje nos obriga à usarmos como um meio de defesa.

No anúncio, havia um telefone para contato.

Na primeira semana, o telefone não tocou. Eu passava os dias na frente do aparelho, ora decepcionado, ora aliviado por nada acontecer.

Mas na segunda semana, o telefone tocou. E tocou de novo. E tocou novamente. E continuou tocando e não parou mais de tocar.

Comecei à receber várias ligações por dia, todos os dias.

Marcava os encontros com as “pretendentes” na praça em que havia visto a garota. Fazia isso para reconstruir o clima e o momento mágico de quando à vi.

A coisa cresceu e ficou meio que fora de controle. O anúncio foi um sucesso e logo, tive que alugar uma sala e contratar uma secretária para que atendesse os telefonemas e agendasse os encontros, tal a quantidade de mulheres que telefonavam.

Esses encontros ou “entrevistas” como chamava a minha secretária, eram marcados em vários horários diferentes, de modo que eu passava o dia inteiro na praça, ocupado com os encontros.

Passei à observar as expectativas e ansiedades delas, muitas vezes, maiores até que as minhas. Eu havia tocado numa parte delas que estava adormecida e que esperou muito tempo para ser despertada.

O jornal no qual eu publiquei o anúncio, se interessou pela minha história e resolveu fazer uma matéria à respeito.

Resultado: o anúncio foi publicado no jornal mais uma vez junto com a matéria. A edição foi um sucesso e eu ganhei mais projeção.

O número de telefonemas triplicou. Tudo parecia surreal.

Uma revista fez uma entrevista comigo e minha história foi capa da edição.

A revista quebrou recordes de vendas e eu ganhei muito dinheiro com isso. Aluguei outra sala maior, comprei mais telefones e contratei mais atendentes.

Uma famosa rede de Televisão me procurou para fazer uma proposta. Queriam mostrar como era o meu dia-a dia no atendimento às pretendentes.

À princípio, era para ser apenas uma participação em um programas de entrevistas, mas o sucesso foi tão grande, que eles me propuseram um contrato para um programa que ia acompanhar a minha história diariamente.

Tive que arrumar um advogado e contratar os serviços de uma empresa de assessoria, que me indicou uma agente para cuidar dos meus interesses.

À essa altura, eu já era uma pequena celebridade, um emergente.

O programa saiu no mês seguinte e se chamava “Procura-se a garota”. A abertura do programa usava o mesmo anúncio do jornal, para aproveitar a popularidade que eu havia adquirido.

Era quase com um Realit Show, no qual as câmeras mostravam como era a minha rotina de atendimento ás pretendentes.

Foi um sucesso imediato e eu fiquei cada vez mais rico. Mais e mais mulheres telefonavam, agora atraídas pelas câmeras da televisão.

O programa ficou no ar quase o ano inteiro. Nesse meio tempo, fiz campanha de muitos produtos, fui convidado para várias outras reportagens e entrevistas e passei à freqüentar a alta sociedade.

Num belo dia, a produtora do programa me chamou na sua sala.

Agora, eu já tinha um camarim dentro da emissora e as chamadas telefônicas eram atendidas pelam central de atendimento da própria emissora.

Quando lá cheguei, já estavam presentes a minha agente e um dos diretores da emissora.

O assunto era o seguinte: o programa apresentava uma queda de audiência considerável e eles queriam que o programa tivesse um desfecho.

Eles queriam que eu fingisse ter achado a garota do anúncio para fechar a atração com chave de ouro.

Eu disse que não podia fazer aquilo, que não teria como fingir que a havia encontrado. Afinal, o programa não transmitia o meu dia-a-dia, não era sobre algo real?

Eles riram de mim. A produtora disse que não tinha nada a haver com a realidade e sim, com um produto que já estava esgotado.

Me recusei à fazer e saí da sala batendo portas, mas a minha agente veio atrás de mim e me explicou que eu tinha um contrato com eles e que se não o cumprisse, seria processado e estaria arruinado.

Não havia outra saída. Eu tive que fazer.

No final daquele ano, foi ao ar um episódio especial com o suposto encontro com a tal garota.

Era uma modelo pouco conhecida que arrumaram e foi tudo dirigido por um dos diretores de novelas da casa.

O episódio até teve uma boa audiência, mas foi muito aquém dos que eles esperavam.

Eu me sentia horrível...eu sabia que em algum lugar, uma garota devia estar vendo tudo aquilo...era “A” garota.

Para manter as aparências, a emissora arrumou uma viagem para mim e a modelo, com se fosse uma “lua-de-mel”. Tivemos que ficar fora de circulação por uns tempos, para quando eu reaparecesse em público, pudesse alegar que não deu certo ou outra coisa.

Quando voltei, não era mais o mesmo. Ainda tinha bastante dinheiro e podia viver confortavelmente sem precisar trabalhar.

Comprei uma casa e me tornei recluso. Algumas pessoas da mídia ainda me procuravam, querendo me entrevistar, mas eu recusava.

Passei a beber e a cada dia, bebia mais e mais.

Bebia para esquecer a garota que só vi uma vez apenas por alguns breves instantes e que estava em algum lugar lá fora... porém totalmente perdida para mim.

Denis Correia Ferreira

24,25,26/04+07,08/05/2007

00:53

N.D.A.: Esta história fictícia foi inspirada na poesia de minha autoria "Procura-se a garota: Parte I (A poesia)".

Denis (Dreamaker)
Enviado por Denis (Dreamaker) em 11/05/2010
Código do texto: T2250309
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.