Em Cima da Ladeira
Ladeira era uma égua dócil e gostosa para cavalgar desde que se soubesse como. Nunca consegui aprender a cavalgar e o máximo que arriscava era um passeio em marcha lenta. Mas pela elegância com que ela andava dava para perceber. Meu avô tinha um carinho especial pelo animal que mudava radicalmente diante de uma cancha reta. Dificilmente perdia uma carreira como chamávamos a competição geralmente com dois animais. O nome, Ladeira porque ela tinha uma diferença entre as coxas traseiras onde a da esquerda era levemente mais baixa.
Naquela tarde de domingo eu e Martinha resolvemos visitar meus avós e um passeio sobre o lombo da Ladeira era parte do programa. Minha avó preparou um carreteiro com milho verde e fazia uma ambruzia daquelas de dar água na boca. A propriedade era um pequeno rancho em lugar aprazível com um pequeno lago aos fundos que usávamos para nadar. Depois do almoço, os velhos se recolheram para uma soneca e nós fomos deitar-nos no gramado ao pé de uma paineira centenária próxima ao lago. Martinha estava alegre como sempre apreciávamos o reboliço dos pardais atrás de grãos caídos ao chão. Meu avô plantava de quase tudo e pouco dependia do armazém. Acabamos tirando também uma soneca. Era verão e a brisa fresquinha convidava a uma cesta. Minha avó veio acordar-nos, pois estava já na hora do café e o pão que ela fazia era algo imperdível. Depois do lauto café, meu avô encilhou a Ladeira e ajudou a acomodar-nos sobre o lombo do animal. Seguimos por uma trilha em meio ao mato que levava até a beira do Jacuí onde meu avô possuía um rancho que usávamos em nossas pescarias.
Martinha virou-se e me beijou.
– Vamos fazer aqui?
– Aqui onde? No mato?
– Não! Encima da Ladeira!
– Por isso você dormiu comportadinha e estranhei que não tivesse inventado nada. Na verdade você já tinha isso em mente não?
– Claro! Seu bobo. Dizendo isso ela virou-se e girando, montou de frente para mim e apoiando os pés sobre as ancas do animal, começou seu jogo de sedução que era algo capaz de me excitar ao máximo. Estrategicamente como sempre ela já havia se desfeito da peça íntima enquanto eu dormia. Confesso que o andar ondulante do animal fazia com que nosso ato de amor tivesse um sabor especial. Assim continuamos deixando a ladeira seguir o caminho que tão bem conhecia e aproveitávamos ao máximo o movimento ondulante do andar da égua. Quando nos demos conta estávamos já na beira do Jacuí. Tiramos as roupas e mergulhamos nas águas mansas e mornas.
A tarde rolava sem que percebemos o mundo a nossa volta. Depois nos acomodamos na tarimba do rancho e começamos novamente o nosso jogo preferido. Quando finalmente acabamos, levantei-me tomando Martinha pela mão para mais um mergulho. Então percebi a figura de meu avô sorridente, montado em seu cavalo diante da porta do rancho. Martinha tratou de cobrir-se me jogando a camisa.
– A juventude é linda! Falou o velho apeando do animal. Tenho saudades dos tempos em que eu e sua avó também fazíamos nossas loucuras escondidos é claro.
– O senhor precisa de algo?
– Não! Estou apenas procurando um bezerro desmamado. Mas não demorem muito, por que o tempo está mudando e deve chover antes da noite. Palavra de que conhecia o tempo até pelo movimento das folhas das árvores. Voltamos para o sítio e despedimo-nos de meus avós. Resolvemos tomar um atalho cortando um campo paralelo a propriedade de meu avô. Íamos distraídos e já estávamos quase chegando a divisa da cerca com a estrada, quando um touro nada amistoso, raspou as patas e arrancou ferozmente em nossa direção.
– Martinha, te joga no chão e fica imóvel. Ao jogar-se Martinha rolou e gritou.
– A Camisa, você está com a camisa vermelha!
Saí em desabalada carreira tentando tirar a camisa enquanto o touro ganhava terreno e começou a chover forte. A cerca de uns 15 m da cerca de arame farpado consegui tirar a camisa que agora molhada pesava mais e a lancei sobre a cerca desviando-me e me jogando ao chão. O Animal arremessou sobre a cerca e num movimento brusco saiu com a camisa presa a guampa esquerda. Então o bicho enraivecido saltava e esperneava tentando livrar-se do incômodo. Finalmente depois de uma série de malabarismos a camisa foi descartada. Ele então acalmou-se e correu em direção ao mato. Talvez para buscar proteção porque a chuva agora era torrencial. Martinha levantou-se e vinha rindo em minha direção.
– Você ficou uma graça correndo daquele jeito e o touro quase te pegando.
– Eu estava com medo de tropeçar, pois a camisa me tapava a visão.
– Porque eles se irritam com o vermelho?
– Porque eles enxergam em preto e branco e o vermelho os irrita.
O que sobrou da camisa, mostrava um imenso rasgão. Vesti-a mesmo assim enquanto Martinha ria da minha cara. A chuva parou e finalmente surgimos na avenida onde o Clube se preparava para mais uma domingueira. Olímpio veio em nossa direção rindo do nosso aspecto. Estávamos molhados até os pés e com manchas de barro por toda a roupa.
– Puxa! Desta vez vocês exageraram. Martinha desse jeito você vai acabar com meu parceiro. Deu até camisa rasgada!
– Nada! Respondeu Martinha, foi só uma briga com um touro.
Despedimo-nos do Olimpio que ficou resmungando algo e sacudindo a cabeça.
– Martinha, será que não dá pra gente dar um tempo e arranjar uma cama normal e macia em um quarto legal e tentar fazer como todo mundo?
– Fica frio. Meus pais vão viajar e eu vou ficar em casa da Claudinha e vou ficar com a chave então...
– Sei! Então aí você vai inventar o tanque de lavar roupa, o jipe do teu pai, o armário da cozinha e sei mais o que.
– Bem que você gosta você só finge que é perigoso pra aumentar a excitação. Você vai ao clube?
– Vou! Nos encontramos aqui.
– Vou te contar um segredo!
– Quando Martinha falava em contar um segredo eu me preparava para mais uma.
– Fale!
– Minha calçinha ficou lá atrás da árvore.
– Agora você vai dizer que nós iremos lá busca-la de madrugada e aí!
– Na mosca. Ainda bem que você me conhece.