NOITE
Às vezes, mal apagada a vela, meus olhos se fechavam tão depressa que eu nem tinha tempo de pensar: "Vou dormir" (Marcel Proust, No Caminho de Swann, Em Busca do Tempo Perdido)
Exageradamente temeroso com os assombros noturnos, vê as sombras sob a porta mal encostada. Encosta forte o rosto no travesseiro. As sombras chegam cada vez mais perto da porta.
A extensão escura do quanto faz acreditar que as sombras já adentraram o quarto, que esticam os braços para tocar o rosto que não dorme. Os olhos observam a extensão escura se aproximando.
Antes que lhe toquem o rosto através da brisa fria que a noite traz, grita antecipando a sensação.
Com o grito, a sombra precipita rápida à porta.
O menino ouve o abrir da porta, a luz inundando a extensão do quarto. Gigante o quarto. Gigante a sombra.
O choro se cala.
As mãos tocam seu rosto.
Não há mais temor. Teu pai vela seu sono, protege seus sonhos enquanto o acalenta na noite finda.