Tempos de Guerra
O que é a paz? Não sei o motivo de me perguntar tanto sobre a forma que ela tem, de onde ela vem. Ela se esvai como mágica de dentro de nós; arrancam de nós e simplesmente ela já não está lá.
Eu, que já me acostumei a viver sem paz, não consigo me conformar com essa guerra. Perdi a paz quando me entreguei ao caos, me atirei de olhos fechados e não sabia por quais correntezas eu passaria. Ainda assim, estava tudo bem. Nadando incansavelmente até o farol, quase sem ar, mas eu ainda estava viva.
Agora os tempos são outros, são tempos de guerra. Querem nos impor uma guerra fira, apontar vilão e mocinho, jogos de estratégia que não compreendo. Querem construir um muro invisível entre nós e nos cegar lentamente.
A censura nos calando, a censura dura e fria. Querem nos tirar a voz, os gestos, os sentidos. Por que temos que nos esconder, se não somos criminosos? Na guerra, são todos culpados e inocentes, mas sempre há o juiz para nos apontar os erros dos perdedores. Será que perdemos? Será que, na verdade, nunca houve uma batalha que tenhamos vencido? O mundo nos esmaga com seus martelos, e não há como fugir, eu deveria saber! Pago, hoje, pela minha ingenuidade.
São tempos de guerra e os bombardeios não cessam; podem acontecer a qualquer momento e vir dos lugares menos esperados. Temos que guardar nossos suprimentos, tapar os ouvidos e rezar. Rezar e esperar passar.
Escuto o ribombar estrondoso das explosões. Boom, boom, boom. Não me sinto segura. Onde, agora, irei me refugiar? Deixo a respiração em suspenso, esqueço de respirar. Desaprendi. Silêncio invadindo cada centímetro quadrado de mim mesma. O vácuo sepulcral inundando tudo o que eu ocupei.
Um dia, a guerra acaba. Quero me manter viva até lá. Provavelmente, contando feridas, relembrando em silêncio cada passo em direção aos tiros que nós demos. Era a nossa forma de lutar por uma causa, a nossa causa. Guardarei cada fragmento de pólvora, cada resto de bala. Cicatrizes que hão de engrandecer cada minuto de quase morte.
São tempos de guerra...