EM MEIO AO NADA, UMA ROSA
O sol se encontrava no meio do céu, mostrando a todos naquele lugar que era meio dia. O chão estava rachado, a terra batida, e, o vapor subia entre os cactos. O calor fazia Francisco em corpo franzino suar, sentia sede, sentia fome. Seguia seus passos compassados sob o chinelo de couro, quase sem sola, no chão que fazia seus pés formigar. Caminhava a mais de uma hora de volta da escola. A cabeça borbulhava, não pelo sol que o cobria, mas, por não conseguir acreditar no que a professora falara na aula de ciências. Relembrava da figura no livro, a descrição do processo de germinação e da fotossíntese, nunca vira, nem ouvira algo assim. Olhava em sua volta e tentava procurar algo parecido, um pequeno sinal que lhe provasse o que a professora contara, mas, o muito que Francisco viu, foi um gado magro, num pasto distante, seco e rachado, alguns cactos e urubus a rasgar o céu. Seus olhos queimaram pelo esforço de olhar profundo a paisagem, a garganta secou ainda mais, se sentiu exausto, pensou em parar um pouco, mas, isso não aliviaria seu infortúnio, porém, se lembrou que mais a frente existia uma parada abandonada, eram apenas algumas tábuas em cima de uns paus, mas ali já fora ponto de partida de muita gente que fugira para a cidade. Quando chegou lá, sentiu sua vista escurecer, se sentiu fraco, queria água. Respirou devagar, tentou descansar, mas, a barriga pedia um pouco de farinha e feijão, decidiu partir, continuar a jornada, quando ouviu perto de si um arrastar de pé, levou um susto, não o percebera chegar. Era um velho magro, de face rachada, olhos fundos e secos, barba serrada, semblante cansado. O velho se aproximou dele e disse: “Longa, longa viagem longa, de espinhos e terra seca e muito calor, há quem diga que há esperança, mas, eu nunca vi grande esplendor, porém, para aquele que acredita na semente que planta, já germinou...” Francisco, coitado, se encontrava assustado, sem saber o que fazer, mas em sua mente, as palavras do velho ecoavam... “Para mim não resta muita vida, mas, para você menino, que homem ainda há de se fazer, te entrego esta semente da terra que tu podes fazer...”. Ao terminar estas palavras, o velho colocou no chão um pequeno embrulho, respirou fundo, virou-se e entrou na estrada que Francisco acabara de passar. Assustado, Francisco apanhou o embrulho, enfiou no bolso e se pôs a correr. Não foi muito longe em sua corrida, o cansaço logo lhe venceu, suas pernas tremiam, com medo, olhou para trás, procurou na estrada reta o velho, mas, não enxergou ninguém, só o vapor que subia da terra que fervilhava. Decidiu enfim, continuar seu caminho, afinal, agora faltava pouco.
Já em casa, almoçou e como de costume, foi ao terreno que existia por trás de sua casa. Lembrou-se do embrulho em seu bolso, das palavras do velho, e a aula da professora que ainda lhe perturbava os pensamentos, mas, decidiu logo abrir o embrulho. Francisco ao abrir encontrou algo novo, diferente de tudo que já vira, tinha um formato estranho, supunha o que era, mas, não tinha certeza. Resolveu levar no outro dia a escola, mostrar a professora, e, tirar suas dúvidas.
Lá na escola, a professora se surpreendeu e perguntou a Francisco onde ele conseguira tal coisa, ele, coitado, não soube explicar direito, mas, com ansiedade, atropelou a pergunta da professora e quis logo saber se daria certo. Ela lhe disse, segurando a pequena semente em sua mão, que aquilo era uma semente de roseira, a mesma que mostrara na aula passada, a da foto no livro. Francisco ficou boquiaberto, e em sua mente borbulhava mil idéias sobre o que fazer com a semente, porém, a professora continuou, lhe disse com ênfase... Esta semente em nossa terra, não germina não.
Era meio dia, o sol se encontrava no centro do céu, o chão estava seco, rachado, e Francisco seguia cabisbaixo no meio da estrada, chutando o chão, com a semente na mão e a cabeça a borbulhar, não pelo calor, que o atormentava, mas, por aquilo que a professora dissera na aula de ciências... Para florescer, precisa de sol, terra, sombra e água... aqui em nossa terra, esta semente não germina não....
Francisco seguia confuso, olhava a paisagem em sua volta, tudo era seco e sem vida, nada ali parecia com as fotos no livro, isso lhe entristecia.
À tarde, deitado na rede, Francisco se lembrava das palavras do velho... “Para mim não resta muita vida, mas, para você menino, que homem ainda há de se fazer, te entrego esta semente da terra que tu podes fazer...”
De súbito, Francisco se levantou, foi ao terreno com a semente, escolheu um espaço perto a porta, fez um buraco, colocou a semente e pensou... “Vou mostrar a todos, que é possível nascer roseira, que no sertão se encontra beleza, esta é a terra que quero fazer...”
Três dias se passaram, e nada acontecia, Francisco se angustiava, queria ver florescer a beleza que encontrara, mas, não havia nenhum sinal. Se lembrou que precisava de sombra e água, pegou então um caneco de água na jarra de sua mãe, e a despejou sobre a terra onde se encontrava a semente, também, procurou pelo terreno um papelão, e cobriu a pequena parte separada, e se encheu novamente de esperança.
Esperou mais um dia, dois, três... A mãe já lhe perguntara o porquê de não sair mais do quintal, os amigos da escola zombavam dele pela história, mas, Francisco tinha dentro de si a certeza, que encontrara algo especial, que com o tempo, havia de florescer.
Um ano se passou, nada acontecera, Francisco por vezes desanimava, mas, a fé dentro de si o fazia não desistir do seu sonho, e a certeza continuava a mesma.
O sol se encontrava no meio do céu, era meio dia, o chão estava seco e rachado, o calor fazia Francisco suar no meio da estrada, a cabeça borbulhava, não pelo sol que o atormentava, mas, pela semente que ainda não germinara. Francisco olhou em sua volta, tudo era seco e sem vida, mas, ele sabia que beleza ainda iria ver no sertão.
No final da tarde, Francisco foi ver se aparecera algum sinal, um ano já se passara, e nada nascera, e mais uma vez pensou consigo... “Há de nascer, na terra seca e batida, rosa bonita que nem a da foto do livro”.
Neste dia, Francisco sentiu algo especial, um aperto no peito, um formigar no rosto, algo úmido lhe escorreu pela face, uma gota de água brotara de seus olhos, o seu choro durou um certo tempo, até Francisco perceber que a terra da semente estava marcada, um pouco molhada, com as lágrimas do seu choro, e soube que algo especial estava para acontecer.
Um mês já se passara após aquele dia, o planta crescia, devagar as folhas apareciam, com um pouco mais de tempo, o esperado inesperado, aconteceu.
A rosa de Francisco nasceu!
Naquele dia, houve festa na casa de Francisco, se tornou ponto turístico... o prefeito, o padeiro, a professora, o povo inteiro, queria ver aquele feito. Francisco transbordava de alegria, era o mais feliz naquela festa, quando lhe perguntaram que nome pôs nela, Francisco soube na hora o que dizer: ESPERANÇA, que na terra se fez florescer!
Fernanda Alves - 02.02.2010