GENTE ENXERIDA
Olhei para a cara do restaurante e decidi passar ali a hora que se fazia necassária ao recreio de uma longa viagem, e ainda me aguardavam longos km, até chegar ao meu doce lar.
Que nem tão doce ultimamente tenha sido, mas um lar.
Os self service realmente alastraram-se Brasil afora e não há como escapar deles em algum momento da vida.
O truque é não pensar em quantas espécies de "cuspe" temperam as saladas e em quantos dedos saídos do narizinho gripado antes de pegar os talheres do arroz e da carne.
O resto não me preocupa, pois minhas preferências são reduzidas até onde consigo reduzi-las.
Bem decorado, bem frequentado, um enorme fogão a lenha no centro, mantendo os pratos quentes, churrasqueiro ao lado de facão em punho, e um calor digno de marca recordista.
Servi o básico, até porque ninguém me garante que um sanduiche seria menos acariciado por unhas que armazenam a maionese que nelas guardam suas sobras.
Então vamos lá.
Meu prato ficou bem bonito, balanceado conforme o protocolo das nutricionistas.
Fui para a balança.
Fila.
Fila?
Sim... fila. E fila que não andava.
Cheguei mais perto da funcionária e pude ver que que a balança estava com defeito.
Puxa... só me faltava essa!
E a fila crescia.
Todos da fila com prato nas mãos, e a fila crescia na mesma velocidade que o calor aumentava.
O fogão a lenha aceso que só ele.
A funcionária me parecia perdida e pensei: "não me custa nada ajudá-la na administração de problemas."
Cheguei mais perto e lhe disse:
- Olha, enquanto não se resolve o problema da balança, creio que poderia ser cobrado um valor pela refeição, naturalmente daqueles que concordarem. Quem preferisse esperaria o conserto da balança.
- Diga isso para a funcionária do caixa...
- (...) Acredito que ficaria melhor se voce dissesse... Já estou dizendo a você.
- Não tenho nada com isso. É problema do caixa.
- Não creio que seja. Acredito que seja problema para a Administração, mas um probleminha pequeno, de fácil solução. São 14h e a empresa já contabilizou o lucro do dia, porque a maioria já almoçou.
- Ela já falou com o gerente e o que ele fez foi mandar outra máquina.
Olhei para a pessoa que entrou no assunto.
Uma mulher bem cheinha, com pulseiras de pelo menos 7 estilos diferentes, loura de farmácia, unhas vermelhas enormes e cara de enxerida.
Fiz ouvidos de morta e continuei minha prosa com a funcionária.
A tal loura continuou seu trololó:
- Tem gente que não tem paciência.
Deus me livre. É preciso um pouco de paciência.
- Senhora, não me lembro de ter enviado convite para que participasse da conversa que iniciei.
- Acontece que também sou comerciante e compreendo a situação.
- Repito que não a convidei e permita-me dizer-lhe que a considero "pra frente e adiantada".
Dispenso sua participação e parabens por ser comerciante.
- O restaurante é público. Tem que ter paciência.
- Engana-se, não é público para desprestar serviços. Propõe-se a servir ao público, e nem por isso tenho que adotar seu modelo de paciência.
Um rapaz observava o barraco e com um risinho bem suspeito cochichou para a loura:
- Você está com a razão ...
Ela ensaiou algum charme e respondeu pausadamente, ajeitando os cabelos amarrados em rabo-de-cavalo:
- Obrigada...
Depois olhou para mim e disse:
- Viu? Ele disse que estou com a razão...
- Senhora, antes de mais nada, não faço questão de estar com a razão e não creio que a opinião do seu comparsa seja suficiente para me convencer de que esteja com a razão.
Olhei para meu prato e tive pensamentos anti-sociais... Minha cunhada, que viajava comigo, filmou minha cara e disse :
- Calma...
Consertada a tal máquina do vale quanto pesa, procurei uma mesa na varanda e pedi uma Coca, com limão, gelo e cidreira. Muita cidreira, preferencialmente.
No primeiro pedaço de carne que levaria à boca tive a surpresa de perceber que o tal que entrara em defesa da loura química estava sentado a pouca distância, com algum amigo que não presenciara o barraco. Pelo risinho dava a impressão de que se divertia com a vaidade que atiçou na loura de pulseiras barulhentas.
Balançou a cabeça e disse, deixando visível que era comigo:
- Você é quem estava com a razão...
O garfo com o pedaço de carne estava bem ali... pertinho , fácil, fácil, mas fingi que não ouvi e tomei um gole da Coca com muito gelo e limão, mastigando o gelo e engolindo bem devagarinho.
Mastiguei gelo até doer os dentes, enquanto decidia:
- Não falo com estranhos .
Nunca mais.
Principalmente com louras acima do peso.
E não darei ouvidos a esse enxerido 2.
Olhei para a cara do restaurante e decidi passar ali a hora que se fazia necassária ao recreio de uma longa viagem, e ainda me aguardavam longos km, até chegar ao meu doce lar.
Que nem tão doce ultimamente tenha sido, mas um lar.
Os self service realmente alastraram-se Brasil afora e não há como escapar deles em algum momento da vida.
O truque é não pensar em quantas espécies de "cuspe" temperam as saladas e em quantos dedos saídos do narizinho gripado antes de pegar os talheres do arroz e da carne.
O resto não me preocupa, pois minhas preferências são reduzidas até onde consigo reduzi-las.
Bem decorado, bem frequentado, um enorme fogão a lenha no centro, mantendo os pratos quentes, churrasqueiro ao lado de facão em punho, e um calor digno de marca recordista.
Servi o básico, até porque ninguém me garante que um sanduiche seria menos acariciado por unhas que armazenam a maionese que nelas guardam suas sobras.
Então vamos lá.
Meu prato ficou bem bonito, balanceado conforme o protocolo das nutricionistas.
Fui para a balança.
Fila.
Fila?
Sim... fila. E fila que não andava.
Cheguei mais perto da funcionária e pude ver que que a balança estava com defeito.
Puxa... só me faltava essa!
E a fila crescia.
Todos da fila com prato nas mãos, e a fila crescia na mesma velocidade que o calor aumentava.
O fogão a lenha aceso que só ele.
A funcionária me parecia perdida e pensei: "não me custa nada ajudá-la na administração de problemas."
Cheguei mais perto e lhe disse:
- Olha, enquanto não se resolve o problema da balança, creio que poderia ser cobrado um valor pela refeição, naturalmente daqueles que concordarem. Quem preferisse esperaria o conserto da balança.
- Diga isso para a funcionária do caixa...
- (...) Acredito que ficaria melhor se voce dissesse... Já estou dizendo a você.
- Não tenho nada com isso. É problema do caixa.
- Não creio que seja. Acredito que seja problema para a Administração, mas um probleminha pequeno, de fácil solução. São 14h e a empresa já contabilizou o lucro do dia, porque a maioria já almoçou.
- Ela já falou com o gerente e o que ele fez foi mandar outra máquina.
Olhei para a pessoa que entrou no assunto.
Uma mulher bem cheinha, com pulseiras de pelo menos 7 estilos diferentes, loura de farmácia, unhas vermelhas enormes e cara de enxerida.
Fiz ouvidos de morta e continuei minha prosa com a funcionária.
A tal loura continuou seu trololó:
- Tem gente que não tem paciência.
Deus me livre. É preciso um pouco de paciência.
- Senhora, não me lembro de ter enviado convite para que participasse da conversa que iniciei.
- Acontece que também sou comerciante e compreendo a situação.
- Repito que não a convidei e permita-me dizer-lhe que a considero "pra frente e adiantada".
Dispenso sua participação e parabens por ser comerciante.
- O restaurante é público. Tem que ter paciência.
- Engana-se, não é público para desprestar serviços. Propõe-se a servir ao público, e nem por isso tenho que adotar seu modelo de paciência.
Um rapaz observava o barraco e com um risinho bem suspeito cochichou para a loura:
- Você está com a razão ...
Ela ensaiou algum charme e respondeu pausadamente, ajeitando os cabelos amarrados em rabo-de-cavalo:
- Obrigada...
Depois olhou para mim e disse:
- Viu? Ele disse que estou com a razão...
- Senhora, antes de mais nada, não faço questão de estar com a razão e não creio que a opinião do seu comparsa seja suficiente para me convencer de que esteja com a razão.
Olhei para meu prato e tive pensamentos anti-sociais... Minha cunhada, que viajava comigo, filmou minha cara e disse :
- Calma...
Consertada a tal máquina do vale quanto pesa, procurei uma mesa na varanda e pedi uma Coca, com limão, gelo e cidreira. Muita cidreira, preferencialmente.
No primeiro pedaço de carne que levaria à boca tive a surpresa de perceber que o tal que entrara em defesa da loura química estava sentado a pouca distância, com algum amigo que não presenciara o barraco. Pelo risinho dava a impressão de que se divertia com a vaidade que atiçou na loura de pulseiras barulhentas.
Balançou a cabeça e disse, deixando visível que era comigo:
- Você é quem estava com a razão...
O garfo com o pedaço de carne estava bem ali... pertinho , fácil, fácil, mas fingi que não ouvi e tomei um gole da Coca com muito gelo e limão, mastigando o gelo e engolindo bem devagarinho.
Mastiguei gelo até doer os dentes, enquanto decidia:
- Não falo com estranhos .
Nunca mais.
Principalmente com louras acima do peso.
E não darei ouvidos a esse enxerido 2.