Ainda pude ve-lo!
AINDA PUDE VE-LO!
Ele caminhava só, era feliz, tinha filhos e uma boa vida conjugal, mas muitas vezes caminhava só.
Ia pensativo, talvez conversando com seu próprio pensamento, talvez revivendo coisas do passado.
Deixemos que ele prossiga na caminhada sozinho, com seus pensamentos a conversar e vamos voltar ao seu passado, já um tanto longícuo.
Tinha ele então uns dois anos de idade, aproximadamente, quando sua vida começou a mudar, para o que seria uma grande fase de dúvidas no seu pensar.
Naquela época, quando ainda não entendia o viver, seu pai num impulso de fraqueza, abandonou seu lar, seguindo em busca de aventuras, para não mais voltar.
Ficou então, pequenino com sua mãe, que pela imaturidade e talvez pelo desespero, seguiu por caminhos obscuros, de uma vida de prazeres, esquecendo-se daquele que Deus havia lhe dado para seus cuidados e então logo esse mesmo Deus a levou.
Ele então com cinco anos passou a morar com seus avós, sendo que já há algum tempo o estava fazendo, e a vida então passava, e a esperança do encontro com quem sonhava, a vontade de vê-lo, o deixava deprimido, embora que onde agora estava então, era tratado com esmero e atenção.
Mas a vida começava a jogar em sua mente, que algo lhe faltava, parecia haver um grande vazio em seu coração.
E a pergunta era incessante:
-Onde está?
-Porque nunca me mandou notícias, nem mesmo uma carta perguntando como estou?
E o tempo corria!
Quando então completava treze anos, no mês que transcorria seu aniversario, seus avós, trouxe-lhe a notícia.
Numa cidade não muito distante dali, jazia em um hospital, aquele quem tanto desejará conhecer, aquele que tanto tempo fizera parte das dúvidas em sua mente, aquele que tanta falta fez, em sua vida de criança.
Como estaria agora?
Como seria ele?
Será que devo ir vê-lo?
Será que irá lembrar-se de mim?
Mas todas essas dúvidas não o impediram de avançar rumo ao que lhe parecia ser a felicidade de ver desvendado o mistério que o acompanhava, e a vontade de saber, era quem o empurrava.
E assim se fez, ao abraçá-lo, ele o reconheceu, pois havia ainda nele, um lampejo de vida.
E é por isso que muitas vezes caminha sozinho.
E nos seus pensamentos deslumbram uma luz de certeza e alegria.
Ele realizou aquilo que muitos não conseguem por toda uma vida.
E para si mesmo, apesar de tudo.
Pode dizer:
-Ainda pude vê-lo!
Jbcardoso.