A Briga de Rua (E no Final Apenas os Perdedores)
Zequinha esmurrou meu rosto duas vezes. Foram dois socos fortes que me fizeram cambalear. Fiquei sem noção de tempo e espaço. A multidão ouriçada torcia orgulhosa urrando como se fosse o público do coliseu romano.
Estava de olhos fechados, fora de mim e ao abrir os olhos, desviei, porque o Zequinha preparava outro soco, consegui desviar e seu soco morreu no ar.
Em contragolpe chutei sua perna e a multidão delirou.
Ainda não tinha perdido as esperanças, podia lutar com Zequinha.
Zequinha furioso me deu outro soco, que espirrou sangue.
Ele é rápido, ligeiro, quase não conseguia desviar de seus golpes.
Eu me afugentava, ia para trás me defendendo.
- Bata nele, bundão!
Dizia um. Mas Zequinha era um daqueles boxeador que não parava de golpear. Era uma máquina de combate e só terminava quando o infeliz beijava o chão.
Eu ia me afastando, defendendo dos socos com meus braços que doíam. As feições do Zequinha eram de puro ódio, rosto carrancudo, queria me espancar.
Eu merecia estar brigando em frente à escola com um brigão?
Eu não era como o Zequinha, às vezes quando brigava (raras vezes) era para defender minha honra. Em todo o caso não era brigão.
Já o Zequinha, se pudesse enfrentaria a escola inteira. Considerava-se o super-homem que podia ganhar de todos.
Perdi até a conta em quantos moleques ele bateu. Era só alguém gritar no recreio:” O Zequinha vai brigar!” que toda a escola não via à hora de bater o sinal e correr pra fora, se aglomerar e assistir o espetáculo do Super-Zequinha.
Pode crer, havia apostas rolando quando Zequinha brigava. Rolava de tudo, lapiseira, caneta, borracha, lápis de cor e caderno.
O Zequinha gostava da fama de brigão e os moleques que brigaram, apanharam dele.
O cara era fortinho, magro, alto, os braços finos e fortes, corpo avermelhado, era louro, de cabelo cortado à máquina dois, nariz pontudo e rosto invocado.
Como eu disse, eu era o próximo de sua lista.
Não tinha como evitar! Eu era o próximo e pronto.
Acredito que ele combinou com os carinhas para tudo acontecer.
Estava na hora do recreio, eu ia passando perto de uns carinhas e o Zequinha do outro lado de costas, queria passar logo, mas senti uma mão nas minhas costas que me jogou em cima do Zequinha.
Foi como se todos dissessem: “Tá ferrado!”
O Zequinha ficou fulo da vida, podia ver fumaça saindo de sua cabeça.
Pedi desculpa, pedi pra não fazer nada comigo, que pagaria e faria as lições e as tarefas dele.
- Não adianta, meu, vai apanhar!
Aconteceu o maior alvoroço, toda a escola adorava uma briga e comentava que eu ia apanhar, que nem daria graça.
Isso aconteceu na Segunda e a briga hoje, é na Sexta-feira.
Fiquei nervoso, com febre, pois reconhecia que ia levar uma surra.
Comecei a pensar, porque não tava aprendendo caratê, judô, kung-fu, boxe, qualquer coisa? Poderia Ter um poder de algum super-herói, qualquer poder.
Claro que sabia lutar, já bati e levei. É a vida.
Com Zequinha era diferente, eu ia apanhar.
- Bate no bundão!
Gritou alguém.
A massa inteira torcia contra mim e bradava para o Zequinha não parar.
Os socos do Zequinha deixaram meus braços doloridos, estou cansado, não agüentava mais defender e se afastar, ia me entregar à derrota.
Pera aí. E se eu mudar minha decisão?
Acabar com a fama do Zequinha, tomar seu reinado, ser ovacionado como um herói, arrancar o medo dos moleques, ganhar as meninas, deixar o Zequinha caído e humilhado, ser o maioral da escola. Aquele que de longe ia me apontar e falar que eu era o moleque que bateu no carinha mais forte da escola. O gosto da fama invadiu-me, a massa que estava contra iria ficar do meu lado.
Não sei por quanto tempo ficamos no bater e no defender.
Foi aí que levei o Zequinha para o muro da escola e ali me encostei. Achou que eu encostado no muro tinha desistido. Ledo engano.
Ele sorriu, armou o punho e como dissesse: “Já era moleque!”
Soltou toda à carga no golpe. Eu abaixei rápido e ouvi o forte impacto do soco no concreto.
Aí ouvi um grito de ai.
Zequinha estava no chão gemendo de dor.
- Ai dói muito, ai, caramba, como dói!
Era minha chance. Devia aproveitar e dar um baita chute no Zequinha. Ele estava indefeso, choramingando de dor. Era só dar o golpe final.
Aí olhei para a massa, ficaram desapontados, foram saindo reclamando decepcionados com o resultado da briga.
- Pensei que ia Ter sangue.
- Marmelada, pô!
- Cara, não passava de um chorão.
E eu fiquei sozinho com o Zequinha que chorava de dor.
Comecei a caminhar, me deu fome, alguém vai socorrer o Zequinha.
Que desperdício!
Sem vencedor e sem perdedor...
( Rod.Arcadia)