LEMBRANÇAS E RESGATES

Existem momentos em que me vejo parado pensando, refletindo sobre toda a minha vida. Lembranças dos momentos da minha infância, garoto cheio de sonhos; verdade, sonhos, porque sonhar foi sempre meu instinto de vencer.

Hoje cabelos já grisalhos, às vésperas de completar 55 anos de idade, a reflexão de tudo que fui na vida, o que passei, o que vivi, as vitórias, as derrotas, o que sou, os amigos verdadeiros e os amores que deixei para trás é algo que não me deixa mais sozinho e se tornam companhias agradáveis em meus dias.

Muitas vezes me pergunto: em quais casos eu poderia ter feito um resgate emocional que me deixaria hoje, mais pleno em sentimentos de paz, amor, afeto e compaixão?

De imediato me surge na memória uma lembrança boa dos tempos de moleque. Colônia de férias do Banco do Brasil junto com minha mãe que lá trabalhava na alta temporada. Gostava de estar na praia da Pedra Redonda do Guaíba, às margens do Guaíba no bairro Tristeza. Muitas vezes junto com meus irmãos, tomávamos banho em águas limpas do rio. Algo quase impossível nos dias de hoje. Ao cair da tarde, voltávamos de ônibus.

Não podia esquecer também dos tempos de puxar carrinho na feira livre fazendo carreto, vendendo balas nos terminais de ônibus no centro da cidade ou pasteis e amendoim torrado com chocolate nos campos de futebol na várzea; vendendo verduras, frutas e legumes em carrinho de mão ou carroça nas imediações do morro da Cruz e redondezas. Tudo isso porque queria vencer, ser alguém e ajudar meus pais. Aos 12 anos já começava minha independência financeira.

Aos 19 anos fiz questão de fazer o serviço militar. Nestes anos minha maior paixão era o futebol que me deu um grande amigo até os dias de hoje. Meu único compadre também gremista. Antes, porém foi no internacional que tentei a sorte. Naquela época era muito difícil mesmo. Não deu certo.

Aos vinte anos deixei um emprego em que ganhava razoavelmente bem para entrar em um banco ganhando dois terço menos que ganhava como auxiliar de escritório.

Tudo acontecia como em meus sonhos. Tudo andava certo. Aos 24 anos veio o casamento. O tempo passou e me afastou de meu pai. Eu também me afastei de mim! Foi duro resistir a perda. Foram tempos difíceis, pois ele encontrou descanso após dois longos anos de doença entre nossa casa e hospitais.

A mim foi designado acompanhar meu pai em seus últimos momentos. Sempre estava lá ao lado de seu leito enfermo, segurando sua mão e conversando até ele ir embora, na sua viagem eterna. Muito antes já tínhamos conversado sobre sua experiência de vida apesar de somente saber desenhar seu nome. Naquela época mesmo sendo ainda um jovem revoltado, entendi perfeitamente o pai que ele fora para mim. Sinto-me recompensado por ter tido ele como pai.

Passaram-se os anos e o nascimento de minhas filhas me deram um novo rumo de vida. Foram elas a sustentação básica de todos os nossos sonhos. As conquistas, a felicidade batendo em minha porta dizia o quanto eram importantes. Tudo o quanto aconteceu com o decorrer dos anos, hoje entendo como se fosse necessário muito embora elas tivessem amadurecido com uma rapidez desnecessária.

Todos estes eventos contribuíram para meu crescimento interior, meu amadurecimento pessoal, aprendendo a valorizar de forma mais completa as pessoas que perto de mim estavam ou ficavam.

Há algo superior, que vai nos dando sinais, mas na sua maioria, não os percebemos. Às vezes, eles são tão intensos, que somos obrigados a percebê-los. Aí então, está toda a diferença de nossa busca por uma paz interior. Sinais que nos pedem resgate. Resgate de nós, de nossas relações, de nossos afetos. Resgates que pedem nossa piedade.

A vida sempre foi dura para mim, mas nunca desisti e a enfrentei com bravura, determinação para vencer. Para enfrentá-la, de um lado tenho a relação com minhas filhas e minha neta. Uma relação muito mais que pai e filho. Uma relação de amigos. De outro lado tenho a relação com minha família e em especial com minha mãe. A sua vivacidade, o seu apego pela vida é que a faz uma mulher generosa e guerreira aos 92 anos de idade. Aprendi a conviver com ela e entender todo o sofrimento que já passou. Também me sinto recompensado por ter ela como mãe.

Tudo para mim tem sido reconstrução. Não tenho mágoa de ninguém nem da vida. Muitos desconhecem minhas atitudes. Quem me conhece sabe da pureza de meu interior. Os que se consideram meus inimigos, estes todos entreguei nas mãos do Pai.

Hoje dedico minha vida as pessoas que amo e na realização de sonhos ainda incompletos. Aprendi a encarar a vida com desconfiança. Muitos não quiseram me conhecer no fundo de minha verdadeira essência. Mesmo assim aprendi a conhecer o ser humano da forma que ele realmente se mostra.

Tudo o quanto vivi doeu muito, machucou, mas estou feliz hoje, pois tenho Deus junto comigo. Sou um ser imperfeito e pecador. O tempo tem sido meu melhor amigo.

Os erros e acertos? O diferencial tem sido positivo. A perfeição de todas as coisas está no Senhor. Todo o resto se completará não no nosso momento, mas no momento de Deus.

((((((Plínio))))))

Redação em 21/11/2009 – 23h29min: 00

Plinio Luiz
Enviado por Plinio Luiz em 29/11/2009
Reeditado em 19/08/2014
Código do texto: T1950725
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