6 e 4 p.m.
Uma vez eu olhei rapidamente para o elógio e eram 6 e 4 da tarde. Eu olhei com desejo de paralisar os segundos, eu queria que permanecesse 6 e 4. O tempo, no entanto, é cruelmente implacável e com seus minutos irritantes, promove o distúrbio invisível da maratona das horas. Elas vêm vindo uma após a outra, correndo sem olhar para trás, mas deixando muitos rastros.
O tempo não me dá tempo de sentir que horas são. Quando são 9 horas, ainda eram 6 e 4. Ás vezes, eu consigo tocar mentalmente em 6 e 4, mas é penas a marca guardada da hora que não voltou. Eu ainda posso fechar os ohos e ver luminoso e grande “ 6:04”.
O relógio onde estava 6 e 4 não existe mais. Só não poso crer na ideia terrível de que o relógio se foi e levou junto meu tempo. Ou o tempo saiu dele e se depositou em mim no momento exato no qual eu li 6 e 4, e sorri, apesar do nervosismo estúpido de quem parece estar sempre correndo contra o tempo.
Não esqueço 6 e 4. Foi uma das alegrias que aquele elógio me deu. Prefiro não pensar nos traumas e no simbolismo um tantinho amedrontador que exalava dele para mim. Como uma tortura, ele anunciava o tempo que não havia.
Se eu pudesse, eu teria dito em 6 e 4 “desliga esse telefone”. Desligue-se em 6 e 4.