Quinta feira – Meio dia (EC)
Ele era mineiro e dizem que mineiro não perde trem porque chega sempre adiantado a estação. Ele não. Nunca chegou adiantado a nada, a maior concessão que fazia era chegar na hora em ponto, mas na maioria das vezes estava atrasado. Para tudo. Ninguém sabia a razão. Quando perguntado por que fazia questão de chegar atrasado, ele dava um sorriso triste, mas nada dizia. Chegou atrasado quase duas horas ao próprio casamento e nesse dia, sendo chamado a atenção pelo padrinho, resmungou: precaução.Chegou a perder a hora de prestar vestibular, entrevistas para emprego, perder viagens... Era católico. Confessava e comungava. Fazia terapia. Mas quando chegava na questão de seus já famosos atrasos parece que um bloqueio impedia que falasse. Em uma noite de amor especialmente feliz ele acabou se abrindo com sua mulher. Quando era menino tinha saído de viagem com o pai e doidos de saudade da mãe voltaram para casa mais cedo – E veja só no que deu, falou ele. Quando abrimos a porta da sala ouvimos uns barulhos estranhos vindos do quarto e corremos para lá: mamãe estava nuazinha na cama com outro homem. Bem, para encurtar a história, eles foram embora para outra cidade e até a morte do pai ouviu dele a mesma cantilena: nunca chegue adiantado em casa meu filho, eu cheguei e veja só no que deu. Bem, guarda-se um segredo a vida inteira e quando resolve contar, conta logo para a pessoa errada porque homem que está apaixonado é sempre crédulo.Ela ouviu e disse ter compreendido e perdoado por ter chegado com duas horas de atraso ao próprio casamento e, disse mais, que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar e que iria ajudá-lo a vencer esse trauma, mas que seria bom ele avisar quando iria chegar porque assim ela estaria preparada para recebê-lo, tanto na cama e na mesa quanto na sala de estar. E então ele foi tentando modificar seu péssimo hábito, tantos empregos havia perdido, tantos amigos.
Aos poucos a vida foi se ajeitando e ele feliz com ela avisava direitinho a mulher quando chegaria e quando isso acontecia mal abria a porta ele sentia os aromas penetrantes da casa que ele tanto amava: cheiro de limpeza, de comida na mesa e de perfume no corpo de sua amada mulher. Mas o diabo sabe trabalhar em silêncio para suas peças pregar. Um dia, oh, que belo dia, ele avisou que chegaria sexta ao meio do dia, no ponto exato, na hora certinha, levando flores, levando bombons e outros presentes para adivinhar. Mas quando abriu a porta de seu lar tão feliz um baque de cara ele levou. Não havia cheiro de nada, a não ser de chulé, pois um par de sapatos de homem adulto e um par de meias por ali jogados estavam, em cima de seu sofá. E havia roupas, roupas de homem e um barulho esquisito que do quarto vinha. Ele pensou em voltar, sair de fininho e mais uma vez atrasado chegar. Mas uma força estranha, uma oculta força arrastou os seus passos em direção ao quarto, o seu ninho de amor. Não, pensava ele em torvelinho, não pode ela ser tão burra e esta peça me pregar. Eu cheguei na hora, ela não podia ser tão descuidada. Foi então que ele bateu com os olhos na Folhinha do Sagrado Coração, pendurada junto porta e que um dia marcava: quinta feira, 26 de novembro e um nome de homem escrito, um nome que não era o seu e ele só pode dizer: puta merda, por esta eu não esperava!
Aos poucos a vida foi se ajeitando e ele feliz com ela avisava direitinho a mulher quando chegaria e quando isso acontecia mal abria a porta ele sentia os aromas penetrantes da casa que ele tanto amava: cheiro de limpeza, de comida na mesa e de perfume no corpo de sua amada mulher. Mas o diabo sabe trabalhar em silêncio para suas peças pregar. Um dia, oh, que belo dia, ele avisou que chegaria sexta ao meio do dia, no ponto exato, na hora certinha, levando flores, levando bombons e outros presentes para adivinhar. Mas quando abriu a porta de seu lar tão feliz um baque de cara ele levou. Não havia cheiro de nada, a não ser de chulé, pois um par de sapatos de homem adulto e um par de meias por ali jogados estavam, em cima de seu sofá. E havia roupas, roupas de homem e um barulho esquisito que do quarto vinha. Ele pensou em voltar, sair de fininho e mais uma vez atrasado chegar. Mas uma força estranha, uma oculta força arrastou os seus passos em direção ao quarto, o seu ninho de amor. Não, pensava ele em torvelinho, não pode ela ser tão burra e esta peça me pregar. Eu cheguei na hora, ela não podia ser tão descuidada. Foi então que ele bateu com os olhos na Folhinha do Sagrado Coração, pendurada junto porta e que um dia marcava: quinta feira, 26 de novembro e um nome de homem escrito, um nome que não era o seu e ele só pode dizer: puta merda, por esta eu não esperava!
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