MANASSÉS TAVARES

Manassés Tavares, era bem conhecido na comunidade de Praia Branca, mas não pelo nome e sim pelo apelido. Mané Pescador.

O conhecimento herdara do pai seu Donato, que o levava para o mar desde seus oito anos.

Quando criança, como estudava na parte da tarde, podia acompanhar o pai. Na madrugada, lá pras quatro da manhã, ajudava o velho a carregar para o pequeno barco a remo, as duas tarrafas, uma de malha pequena e outra de malha grande, usadas de acordo com a necessidade do tipo de pescado. Levavam sempre uma sacola com garrafa de café e água e vez por outras algumas laranjas, e claro, um samburá.Uma vez carregado o barco, empurravam-no até as águas calmas da prainha.

O pai remava até perto de uma ilhota não muito distante onde as águas eram calmas. Com um barco daqueles, impossível se aventurar para locais mais distantes. Mane adorava sentir o deslizar tranqüilo e o vento úmido batendo em seu rosto. Seu pai tocava o barco de maneira vigorosa, mas silenciosa.Dizia ser um "macête" para não espantar os peixes. O olhar de seu Donato sempre atento ao mar. Sabia sempre a hora de recolher o remo devagar

e lançar a tarrafa. A sorte quase sempre favorecia, talvez porque

o velho sempre se benzia antes de cada arremesso.

No princípio, a tarefa do pequeno Mane, era recolher os peixes e guardá-los no samburá. Eram robalos, caratingas, bagres, galo e vez por outra um belo parati sem contar os siris que quando miúdos eram devolvidos ao mar. Depois, o pai começou a ensinar-lhe a arremessar.

Mané recorda-se até hoje do primeiro arremesso, que por pouco não lhe custou uma queda na água, pois esquecera-se de soltar a parte da malha presa nos dentes, na hora do lance. O pai foi quem lhe segurou e sorrindo o alertou para a falta de atenção.

Quando em terra, após as tarefas escolares, aprendeu a arte de tecer e consertar redes.

Mané cresceu, apendeu bem o ofício, aprendeu a respeitar o mar acho que só não aprendeu a respeitar a mulher alheia.

Vivia trocando olhares furtivos com Dorinha, mulher de Tico Padeiro; às vezes na missa de domingo ou até mesmo quando a via na porta de casa ao voltar do mar.

Corria à boca miúda, que Dorinha mesmo sendo casada, adorava flertar às vezes até na presença do marido.

Mesmo sendo alertado pelos amigos, do gênio violento de Tico Padeiro, Mané Pescador não ligava. Queria, porque queria Dorinha.

Dorinha também queria.

E conseguiram. Certo dia, de maneira previamente combinada, Mané entrou na casa da moça, às cinco da manhã, logo após o marido sair para o trabalho.

O moço bonito, moreno forte, saciou-se e saciou a vontade da moça bem feita de corpo e de seios fartos.

Encontraram-se mais e mais vezes. Apaixonaram-se. Tornaram-se amantes, e, como a paixão quase sempre é inconseqüente e desenfreada, levantaram suspeitas.

Diziam os amigos mais íntimos, que Tico Padeiro já desconfiava da traição da mulher com Mané, e que iria agir em nome da honra.

Pois bem! Era uma Sexta-Feira Santa, e mesmo contrariando o pai, que já não pescava mais devido a idade, não respeitou o dia e manhãzinha carregou o barco e partiu.

Nunca mais voltou.

Do barco, só foram encontrados pedaços presos entre as pedras da ilhota, assim como restos das tarrafas.

Seu corpo nunca apareceu. O mar levou.

Na pequena comunidade, a comoção foi geral.

Seu Donato inconformado, achava ser castigo do céu, pelo desrespeito ao dia Santo.

Dorinha disfarçava as lágrimas para o marido não perceber.

Os amigos sabiam da experiência de Mané Pescador e atribuíam o fato a alguma onda traiçoeira, de revés.

Talvez só quem se sentisse intimamente satisfeito, fosse Tico Padeiro, O fizera o trabalho, que ele já pensava em fazer. Sua honra estava lavada pelo sal.

O funeral foi simbólico. Havia apenas um caixão vazio enterrado no pequeno cemitério. Na lápide sem foto, apenas um nome. Manassés Tavares.

Ora! A história não foi bem essa.

Tudo uma farsa engendrada pelo próprio Seu Donato, para salvaguardar a vida do filho. Para isso usou seu único conhecimento; o mar.

Manassés Tavares hoje vive lá pras bandas do Araguaia. Está aprendendo os segredos do rio.

O pai está aguardando mais um tempinho para não levantar suspeitas e ir ao encontro do filho.

Entre eles, paira apenas a dúvida se devem ou não contar a verdade a Dorinha, que está em processo de divórcio.

14/09/05

pctrindade
Enviado por pctrindade em 20/10/2009
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