Eu Judeu, Você Judeu
Este conto trata de tradição judaica. Se você não sabe respeitar esta prerrogativa por favor não leia e não comente.
Eu Judeu, Você Judeu
por Pedro Moreno do blog http://eujudeuvocejudeu.blogspot.com/
Pela escotilha fechada por um grosso vidro podia se ver as estrelas brilhantes. Com a altitude, o avião planava acima da fuligem da poluição que tanto caracteriza a nossa visão deixando claro o tão bonito que é o nosso céu.
Checando o celular a cada dez minutos conferindo se a secretária havia mandado a ata da reunião, está Jonathan Singer. Empresário estadunidense do ramo têxtil em sua primeira viagem à Israel.
Graças ao mercado globalizado e a alta competitividade de seus produtos ele fechará amanhã o contrato afim de abrir uma filial na terra sagrada. Ansioso, ele mal percebe o Moshe ao seu lado.
Moshe Cohen vem de uma comunidade chassídica no leste europeu. Muito conhecido entre seus vizinhos por sua diligência quanto ao cumprimento das mitzvot, todo ano pega um avião rumo à Israel.
Quando os primeiros raios solares tocaram, a nave o já idoso Moshe retirou seu talit e tefilin de uma bolsa de veludo. Colocou os filactérios com esmero com o xale por cima de tudo e prosseguiu suas orações.
Ao terminar ele coçou sua longa barba já acizentada pela idade e olhou para o empresário do seu lado. Porém o já idoso chassid falava apenas o ídiche e o russo que é sua língua materna e o americano apenas o inglês.
Através de mímica, Moshe chamou a atenção de Jonathan e tentou-lhe oferecer o uso do tefilin. Mas os dois pareciam não se entender. Por um lado o judeu idoso mal conseguia dizer o que queria e o americano sequer tinha idéia do que o senhor gesticulava.
O chassid desatou a falar o seu russo carregado o quê deixava a situação beirando a comicidade, então ele parou e se disse, com um sotaque carregado, o pouco que ele sabia do inglês:
- Eu judeu. Você judeu. Eu Tefilin. Você Tefilin!
Jonathan olhou para o senhor que sorria com a mão estendida. Seus olhos brilhavam com o grande tesouro que era para ele seus filactérios. O americano pegou-os na mão e em sua primeira ida à Israel ele colocou pela primeira vez um tefilin.