Cabelos Brancos

Gostava de escrever, tinha uma compulsão incontrolável por juntar palavras, rebuscar letras. Cada linha escrita era um êxtase, cada parágrafo uma vitória, sentia-se perpetuado mesmo sabendo que não muitos leriam seus escritos. Escrevia para si mesmo. Era um escritor.

Nem sempre suas frases faziam sentido e quanto menos coerência mostrassem, mais inteligente e culto o consideravam. Quanto mais errático o texto, mais admirado o autor. Era um escritor

Nos segredos de liquidificador que processava freneticamente, impunha-se a criatividade dos medíocres, a inovação dos ultrapassados e a quebra de paradigma dos acomodados. Era um escritor.

Visionário, sonhava transformar paredes em horizontes desde que não fossem insondáveis e horizontes em sonhos, desde que não se tornassem pesadelo. Era um revolucionário de escritório. Era um escritor.

Um dia, cabelos brancos, tentou conciliar o que escrevia com a realidade à sua volta. Resignado, viu que não conseguiria e continuou criando a sua. Era um escritor.

Rosso
Enviado por Rosso em 02/08/2009
Reeditado em 31/12/2010
Código do texto: T1732619
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