OU VAI OU ... RACHOU !

Tudo começou quando eu percebi que eu não era feliz Ou talvez quando eu ainda não fazia idéia da minha infelicidade. É sério! O período que começou após o meu primeiro ano de casamento, e durou até um pouco antes da minha separação. Pode ser considerado como a idade media da minha vida, onde a pessoa que eu era foi trancada em um quarto escuro e sem espelho. Nem mesmo eu conseguia me ver. Fui reprimida e como conseqüência não sei se fatalmente ou infelizmente, talvez as duas coisas. Acabei também me reprimindo culturalmente, financeiramente e sexualmente como pessoa e como mulher.Só restou a mãe, porque se te suprimirem da pessoa e da mulher, será impossível ser esposa. Precisou eu levar muito na cabeça para eu entender isso!

Foi tudo tão trágico que chega a ser ridículo. Cineminha era só filme da Disney. Teatro, nem me lembro se passei na porta. Chopinho só nós dois? Há há haha!! Vocês devem estar pensando assim: Impossível! Pelo menos a um show esse cara deve ter levado essa mulher! Ela está exagerando. Concordo com vocês, e que a verdade seja dita! Em certa sexta feira à noite que não sei exatamente a data, mas me lembro que foi nos primeiros três meses do nosso casamento. Fomos ao Canecão ver um show do João Bosco. Nossa! Sabe aquele tipo de noite da qual agente nunca se esquece? É, aquele tipo de coisa que passam a fazer parte das nossas aventuras e que contamos aos nossos netos na nossa velhice. Mas já que ainda não tenho netos, então vou contar pra vocês nossa façanha.

Lá estávamos nós, sexta feira à noite perfumados e lindos dentro do nosso carro em plena Av. Brasil rumando ao Canecão. Tínhamos saído da casa da minha mãe, que ficou na retaguarda para iniciar uma novena pedindo a todos os santos para que chegássemos vivos ao nosso destino. Hoje eu sei que ela deveria estar pedindo aos santos para dirigir no lugar do meu ex marido. Porque ele “achava” que sabia dirigir, pior, ele jurava que sabia e acreditava nessa jura. Só ele e mais ninguém! Vamos continuar... Ele havia feito umas três aulinhas no fusquinha de um amigo antes da gente casar; e passou a acreditar piamente que sabia dirigir. E aí de quem dissesse a ele o contrario! Ganharia um inimigo pro resto da vida! Ele era capaz de assinar com sangue uma declaração dizendo que era bom motorista.

Naquela sexta feira, que nem era treze, eu pensei que ia ser o meu fim. Gente, ele estava a uns 60 ou 70 km por hora; e nem conseguia ficar na pista que lhe era de direito. Toda hora eu via aquela linha branca vindo na minha direção e falava assim:

- Amor chega um pouquinho pra esquerda! Agente tem que ficar na nossa pista.

Ele me atendia e eu soltava um suspiro aliviado, nem mal terminava de suspirar e lá vinha a linha branca novamente! E eu ali ao lado dele firme e forte, com um sorriso congelado na cara. O amor não é lindo?Aquilo que eu chamei de sorriso, na verdade era um estado de tensão entre “não sei se rio ou se choro”. Sabe aquele tipo de situação que agente fica repetindo mentalmente.

- Aí meu Deus! Vou morrer, vou morrer!

E fica com o rosto tenso, olhos arregalados e com os dentes meio que aparecendo? Pois é! Você fica tão tenso que sem sabe se está respirando, e a sua mente freneticamente continua dizendo: - Aí meu Deus, aí meu Deus!

Você conta os minutos pra aquilo terminar, de repente termina. Mas sua mente em estado de choque continua repetindo: - Ai meu Deus, ai meu Deus!

O meu “Ai meu Deus” só parou, quando eu ouvi os primeiros acordes do violão do João Bosco e percebi que estava viva. Bendito seja o João Bosco! Como não poderia deixar de ser, o show foi maravilhoso. Logo após os últimos acordes e os conseqüentes aplausos, comecei a ficar nervosa só em pensar em volta pra casa.

A ida tinha sido tão impactante, que o bom senso dele até então adormecido falou... Gritou, implorou! E foi então ele sugeriu passarmos a noite num motel, e voltarmos com mais segurança pra casa pela manhã. Vocês não sabem como eu agradeci a Deus por isso! Mais uma vez, lá fomos nós! Eu, ele e o nosso carrinho.

Por um breve instante eu achei que iríamos terminar a noite com chave de ouro. Mas vocês acham mesmo? Eu também achava como eu sou ingênua! Ele escolheu um motel, que tinha uma ladeira bem íngreme, que deveríamos subir até aos apartamentos. Vocês têm noção do que é uma ladeira pra quem não sabe dirigir? Pois é!... Cara! No dia do meu casamento deveria ter sido tocada aquela musica do Chico “Até o fim”. Aquela que diz assim: ”Quando eu nasci veio um anjo safado, e um chato de um querubim...”. É, essa mesmo!

Voltemos a ladeira... Depois de passamos pela recepção, seguimos em direção aos apartamentos. Foi aí que nos deparamos com a malfadada ladeira, íngreme que só! Ele engatou uma primeira e lá fomos nós, até a metade é claro! O motor do carro fazia um barulho engasgado como quem perdia o ar. E eu perdi a conta de quantas vezes fomos até a metade e o bichinho o fôlego e voltava lá pra baixo. Nós estávamos lavados de suor e desesperados com a possibilidade de termos que chamar alguém para levar nosso carro até lá em cima. Gente! Vocês já imaginaram a vergonha?

Eu coloquei minhas mãos sobre o painel e movimentava o pescoço pra frente, tentando empurrar com a força da minha mente o carro até o alto da ladeira pra acabar com aquela agonia. Eu não sei se foi o poder da minha mente ou o desespero dele, o fato é que Chegamos lá em cima sem a ajuda de ninguém.

Quando chegamos ao quarto, estávamos tão desgastados que fomos dormir. Talvez vocês não tenham entendido, eu estou falando de dormir mesmo! Essa experiência foi tão traumatizante, que demoramos uns 10 anos para voltarmos a um motel. E apesar de não termos passado a noite dormindo, a experiência também não foi lá essas coisas. Ele esqueceu o cartão e credito, e eu tive que ficar esterando com um segurança como "garantia". Pra ele ir pegar dinheiro no caixa eletrônico.

"... E ontem,

Sonhando comigo e mandou eu jogar.

No burro,

Foi, no burro!

E deu na cabeça,

A centena e o milhar.

Aí! Quero me separar!" (João Bosco e Aldir Blanc)

cinara
Enviado por cinara em 07/07/2009
Reeditado em 02/12/2009
Código do texto: T1687437
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