O Contrato
Um jovem chamado XXNXXX estava desesperado e angustiado devido a sua condição de desempregado. Ele levava seus currículos todos os dias para diversas empresas e agências de emprego desta grande cidade de São Paulo.
Suas manhãs e tardes resumiam-se a subir e descer ruas entregando aqueles currículos, que depois, eventualmente iriam para o lixo, ou serviriam de rascunho, pois estamos em tempo de crise e está muito caro gastar papel hoje em dia. Portanto, nada melhor do que currículos para serem utilizados como rascunho.
Certo dia XXNXXX recebera um telefonema em sua casa.
-Alô!
-Bom dia! Gostaria de falar com XXNXXX referente a uma oportunidade de emprego.
-É ele mesmo quem fala.
-Então XXNXXX, a vaga é para uma empresa chamada MEPHISTO CORPORATION.
-O cargo seria o de Auxiliar Administrativo?
-Isso mesmo, e o salário fica a combinar.
-Correto!
-Mais uma coisa XXNXXX, a empresa tem extrema urgência em contratar, portanto, gostaria de saber se você se disponibiliza a fazer a entrevista hoje à tarde?
-Sem dúvidas e não tenho nenhum compromisso, hoje é um dia perfeito.
-Muito obrigado pela sua atenção XXNXXX e boa sorte para você.
Que momentos de felicidade para aquele jovem, finalmente uma entrevista. Seus sofrimentos agora poderiam acabar. Até que enfim uma grande oportunidade, pois aquela é segundo dizem uma empresa de renome e com muita tradição no mercado.
XXNXXX alegremente tomou banho, colocou sua melhor roupa, engraxou seus sapatos, arrumou cuidadosamente suas coisas, separou o que iria levar para a entrevista e saiu alegremente dando saltos de alegria pela rua. Ah, jovem feliz, e como estava radiante naquele dia e cantava, cantava e cantava...
Ao chegar a empresa conduziram o jovem a uma pequena sala no final de um extenso corredor. Esta sala era iluminada por uma luz fraca e suas cortinas estavam fechadas, um típico ambiente de entrevistas, aconchegante e acolhedora, sem falar no leve cheiro de mofo e enxofre. Aquela era mesmo a sala perfeita, quem não gostaria de fazer uma entrevista naquele local.
Alguns instantes depois um homem de meia idade, de altura mediana e trajando caríssimas vestimentas entra na sala.
-Boa tarde XXNXXX! Sente-se, por favor!
-Boa tarde!
-Então, a vaga em nossa empresa é para trabalhar como Auxiliar Administrativo, conforme conversaram com você por telefone.
-Isso mesmo.
-Vou lhe dizendo desde já que nesta empresa trabalha-se muito, muito mesmo e os salários aqui são baixos, porque estamos em tempos de crise.
-Sim Senhor.
-Terei grande satisfação em contratá-lo, desde que aceite trabalhar igual a um condenado na melhor empresa do país.
-Aceito sem questionar.
-Gostei de ver, você tem determinação e garra para trabalhar aqui, pois conhece plenamente o principal mandamento do mundo corporativo “questionar nunca e concordar sempre”.
Dito isso, o enigmático senhor levantou-se, foi até um armário próximo, tirou de lá uma pasta, abriu-a, retirou uns papéis e colocou-os sobre a mesa.
-XXNXXX este é o seu contrato de trabalho. Devo te dizer que ao assiná-lo você viverá exclusivamente para empresa e nunca mais terá tempo para o lazer, pois em primeiro lugar vem o trabalho e o resto é bobagem.
-Aceito plenamente.
-E como estamos em tempos de crise, devo também lhe informar que seu salário será muito baixo.
-Concordo, pois o importante mesmo é ter um emprego.
-Ótimo, é só assinar onde está marcado.
O enigmático senhor pegou o contrato, olhou-o atentamente, e com seu olhar mefistofélico e um aperto de mão encerrou a entrevista.
Contrato assinado, alma perdida para todo o sempre.