Esperança
Em meio um pequeno apartamento lotado de bugigangas e tralhas, apertada em um sofá para dois, uma bela e sincera moça sorria. Com suas roupas simples – mais belas – e realizada como professora seu nome era Esperança... Cara moça, cara mia...
Esperança cantava a musica de canários e outras aves belas que havia visto em um conto de fadas. Seus olhos brilhavam como de seus pequenos pupilos, vendo no mundo uma aventura na qual tudo termina bem. Era simples como esperança, pequenas frases, pequenas poesias e em tudo Esperança cantarolava a musica da vida que redundantemente vivia.
Pois bem, voltando à esperança, lá estava ela em seu sofá – aquele para dois – esperando seu belíssimo Adônis. Namorado forte, corajoso, alto e bem sucedido empresário – característica que não importava tanto, afinal dinheiro para ela não servia.
Foi quando de repente, mas não de rompante tocou o telefone. Era uma ligação de seu belo, seu caro Adônis. A primeira coisa que Esperança pensou, analisando sua voz ao falar era que ele estava ansioso, mas feliz. E ai sim de repente e de rompante ela ouviu:
- Esperança, to ligando pra ti falar minha linda que num ta dando mais não. Não posso mais mentir, eu to ficando com uma mina que eu peguei na night e eu não quero te magoar.
- O que? É uma piada meu lindo Adônis?
- Né não linda...ta ligado, você é inteligente e tal e tal, por isso eu to te falando. Você precisa de um desses cara culto que vai em teatro e essas coisas de viadinho.
- Do que estas falando meu caro Adônis? É uma piada?
- Né piada não linda, vou nessa, se cuida.
- Adônis? Adônis? Adônis? – Foi quando ele desligou, e ela falava com um insuportável e inacreditável “tututu”.
Esperança olhou ao horizonte de sua sala sem paredes. E lembrou-se a pouco tempo de algo importante. Que o motivo dela ter chamado Adônis hoje é que ela tinha uma surpresa para seu nobre cavaleiro. Mas parece que ele é quem surpreendeu e ainda por telefone... – Poxa Adônis...
Esperança correu ao horizonte que a cidade trazia. Um cinza concreto para onde ela sempre corria. Foi como se os céus entendessem o blues que tocava em seu coração e do cinza se fez chuva. O que seria agora do pequeno Adônis?
A cidade era grande e esperança chorava. E quanto mais ela chorava maior ficava a cidade. Não existiam mais pessoas na rua para sentir pena de sua situação terrível. Não existia mais nada. Ela corria sozinha lembrando-se do que não ocorrera ainda. O fato de que será mãe solteira.
E o cinza da cidade, com seus prédios, carros, postes e luzes distantes foram ficando preto e branco. Como em um filme antigo, tudo era preto e branco. Mas ai ao longe veio alguém com uma roupa de Zinni e uma mascara meio aberta. Ele andava meio devagar ou meio rápido e era muito feio.
Parou ao lado de Esperança pondo seus olhos vesgos por trás daquela mascara negra perto ao seu rosto. Ele fez uma reverencia e logo começou a falar com uma voz rouca e nada sadia:
- Mil prazeres que sinto ao encontrar perdida minha outra metade.
Esperança estava paralisada ao ver aquela criatura grotesca falar. E ainda mais estranho era ela a chamar de outra metade. Foi estranho, mas pouco a pouco ela o reconheceu como um irmão que teve em uma época não bem conhecida. Ela o olhou fraternalmente e começou a confiar, foi ai que respondeu:
- Acho que ao menos um prazer tive em te ver Desespero...
- Vejo que lembrou meu nome...
- E vejo que estás bem mais sadio que da ultima vez.
- É assim que se equilibram as coisas, nesse momento a esperança estava tão desesperada que o desesperou esperançou.
- Não sei o que será do meu futuro, do meu filho, como irei viver sem meu lindo Adônis?
- Hahaha! Estas falando daquele imbecil? Dono de uma academia meia boca no centro da cidade? Que mal sabe quem foi Cervantes e insiste em falar de Don Quixote?
- Talvez Adônis não fosse o mais esperto dos homens, mas com certeza era o mais belo.
- Se chamas de beleza seus músculos... Acho que duvidar disso seria uma piada minha. Mas seu cabelo crespo e curto, cabeça chata e rosto amassado como por um caminhão – se realmente não for parecia de verdade – ele não era belo irmã...admita...
- Mas eu via meu futuro com ele!
- E eu só te via chorar, ou morrer, ou sei lá...
- Já sei o que fazer!
- O quê?
- Não te contareis!
- Menina menina, cuidado! Isso não é bom, isso não é fácil. Nunca se sabe no que vai dar, e duvido muito que de certo. Cuidado menina, cuidado! É certo que o futuro é incerto, mas lhe digo que nessa vida que venho vivendo – ou não – eu nunca vi o incerto de alguma forma bom.
- Saia desespero!
E esperança brilhou cores aquele mundo. Desespero se foi junto com o preto e branco e o blues que o céu tocava. Era cedo ainda e pessoas andavam pela rua. Esperança olhou para o céu e foi quando outra inesperada visita veio. Ela olhou para frente e uma bela mulher de longos cabelos negros, roupa de executiva e um celular na mão andando até ela. A mulher não parava de falar no celular, até que olhou para esperança e começou:
- Esperança Christina Guimarães certo?
Esperança estava com medo e ficou em silencio... Olhou para aquela mulher que era aterrorizante.
- É você mesmo... Veja bem, meu nome é O Fim, e, por favor, não tema. Eu sou o circulo que fecha o filme dos Loney Tunes ou o manto que cobre o morto...Tanto faz, mas não tema. Sua vida toda você acreditou no futuro e nunca se lembrou de mim. Sua vida você foi uma professora de pequenos alunos da quinta serie, namorou um marombeiro que sempre ti traiu e ainda engravidou dele, mas continuou acreditando no futuro. Vejamos...Você é desprezível... Pessoa qualquer, ninguém vai nem notar que seu “eu” chegou... Bom sinto lhe informar, esse é o triste “eu” de Esperança, a mulher que nunca se lembrou de mim...
E a executiva foi fechando o cenário, pegando esperança e tudo foi ficando negro e incerto. Algo inexplicável estava acontecendo ali. Algo que todos passam, mas ninguém sabe como contar. O circulo foi fechando, mas não iria ter uma próxima pessoal. Era o O Fim...
Em meio um pequeno apartamento lotado de bugigangas e tralhas, apertada em um sofá para dois, uma bela e sincera moça sorria. Com suas roupas simples – mais belas – e realizada como professora seu nome era Maria... Cara moça, cara mia... Uma vez Esperança, mas foi o fim dessa agonia. Quando no cartório mudou seu nome aquele dia.