Banho
Se é necessário parar para pensar e meditar sobre o que se faz, então não tenho muito me dedicado. São pêlos que se conhecem, são pernas que se encostam enquanto se deitam, são pazes feitas em respiros unidos. Eu, aqui, longe, distante de um mundo que existe e que age fora de mim. Onde posso estar além de aqui, pensando? Incrível, mas não penso. Tento, mas não estou pensando como deveria. O vento que bate no meu corpo é suficiente, estou disposta a esquecer que dentro de mim bate um órgão que dói, que incomoda. Se tenho um poder nas mãos e no corpo todo, quero usufruir dele sem que ele me machuque. Após minutos e horas rolarem durante a madrugada, um bom senso cresceu e o que podia ser o fim tornou-se um aprendizado e uma lousa cheia de lições. Eu, aqui, mais uma vez vendo tudo se realizar a minha frente. Magnífico. Mas esperava criatividade e emoção neste momento. Dizer que amores se reconciliam e que verdadeiros não morrem era para ser algo mágico, afim são verdadeiros e não morrem, diferentes de mim. Estou farta das minhas mentiras, procuro algo que na verdade tenho medo de encontrar. Tenho algo dentro de mim que vicia, mas que apenas deixa vontade, e enquanto isso meu corpo todo sente-se incomodado por errar, por mentir, por ser quem querem que eu seja e em ultimo lugar ser eu. Depois que o dia termina, que o suor seca, volto a mim, olho-me no espelho e penso que agora sim, estou em casa, estou sozinha comigo, estou a vontade, agora sim.
Medo de dividir meus dias com quem busca algo que eu não sou. Errada estou quando me torno quem querem e esqueço-me de mim. Farta estou de um dom maravilhoso. Farta estou de desejar e ser desejada. O poder que tenho nas mãos é irrecusável, mas neste quarto escuro alguém dói, dói uma dor que eu não entendo, dói uma dor que não existe, por isso dói tanto. Ao invés de ter mentes dentro da minha, tenho paixões que quero recusar, tenho sonhos que sonhei mas agora tenho medo. Pessoas irão para sempre me ter, mas poucas saberão que nunca me tiveram.
Foi numa noite em que ninguém me amava fisicamente que eu me entreguei a noite e deixei que me amasse como ninguém mais se entregaria. Dei meu corpo e minha alma a um céu negro e claro ao mesmo tempo. Deixei que as estrelas voltassem para a casa. Dei meu corpo de abrigo a toda aquela energia que circundava aquele céu infinito e dentro de mim transbordou, até não caber mais, uma alma, um infinito de energia que comanda a tudo o que se move. Uma calmaria tomou todo o meu ser e aqueles ventos que organizam tudo o que existe sussurrou aos meus ouvidos dizendo; ‘você pode tudo! O poder é seu!’. Agradecida pela dádiva não consegui fazer rolar uma lágrima sequer dos meus olhos, eles brilhavam cheios de uma energia encantadora e surpreendente. Eu tenho poder e gosto disso. Os amores que não morrem conhecerão esta humilde energia que quer o bem, o melhor a todos a minha volta. Estou disposta a fazer crescer ainda mais este poder, mas mais disposta ainda estou para aprender a lhe dar com ele. Mãos que buscam corpos, rostos, peitos, pêlos e almas. Aprender a lhe dar com almas, são a elas que devo fazer bem, é a elas que meu amor deve chegar, permanecer e se eternizar como amores que não morrem.
Egoísmo nenhum pode ser comparado a está maluquice de mandar em almas. Verdadeira é esta energia que possuo, está matéria em movimento que me banhou naquela noite. Amores verdadeiros não morrem. Matérias que já se compatibilizaram, não mais se desfazem. Permanece intocável na alma o que aceitamos que é bom. E esta energia é verdadeiramente boa a todos os que a conhece.
BCA