Ensaio sobre um conto sem sentido
As marcas que ficaram em mim depois de tantos desencantos, imunizaram minha alma. Já não existia mais um único vestígio de amor e compaixão que pudesse alimentar meu espírito com novas esperanças. Ela havia desistido de mim várias vezes, e não seriam as últimas. Sim, parecia que uma possível volta aconteceria, mas apenas para alimentar o motivo de uma nova separação. Isso não era vida!
Depois de tantas decepções – e algumas já previstas antecipadamente –, a única saída agora era desistir daquela relação.
O céu estava claro naquela tarde – não que isso fizesse diferença -, mas era um alento para mim. Um vento frio, mas agradável, soprava em minha face quando decidi descer e andar um pouco pelo calçadão. Pensamentos e mais pensamentos tomavam conta de mim e, por várias vezes, perdi a atenção naquilo que realmente era importante naquela hora. Voltei várias vezes ao início, tentando não perder o fio da vida – que sustentava a minha aparente e estranha existência. Enfim, nada fazia sentido. Eu poderia desistir de tudo e deixar que o anjo da morte me levasse. Poderia lutar também, não desistir, passar por cima de tantas coisas irrelevantes, mas me faltava coragem. Faltava vontade, faltava ela.
Sentei no jardim – na grama – fofa e molhada, mas não me importei com isso. Afinal, nada mais importava mesmo!
Dei várias voltas com meus pensamentos, passando por todas as alternativas possíveis. Esperando e tentando descobrir uma brecha em meu destino. Minha cabeça explodia, os olhos pesados e o corpo entregue. Por um momento – um infinito momento – quase me entreguei, quase desisti. Mas, parei de repente, e diante de meus olhos, enxerguei a salvação. Tão clara e certa que me espantei. Sorri, chorei. Olhei para os lados tentando ver se alguém me observava. Ninguém! Gritei e saltei no ar. Estava escrito nas estrelas, nas calçadas e paredes, nas placas de trânsito e na minha testa, piscando em luzes vermelhas. Tive certeza que estava delirando – mas era um delírio delicioso. E lembrei que ontem, quando já não restava um único motivo pra sorrir – uma frase num livro me alertava “Teste Para Saber Se Sua Missão Aqui Na Terra Está Cumprida: SE VOCÊ ESTÁ VIVO, NÃO ESTÁ!”