Tumbas famosas

Diz-se que o ex-governador do Espírito Santo, Domingues Martins, amanheceu lá pelos idos da metade do seu mandato com uma idéia maravilhosa para atrair divisas para o estado: trazer mortos ilustres para um cemitério internacional de celebridades que atrairiam turistas e gerariam empregos. Este cemitério localizar-se-ia em um ponto entre Cariacica e Vila Velha e usaria todo o mármore cachoeirense que pudesse, sendo um cemitério de primeira, de classe, fino. Diz-se que devido ao grande problema de logística, afinal trazer corpos de tão longe ficou extremamente caro, o cemitério das celebridades não pôde sair da prancheta, porém soube-se de alguns finados que efetivamente vieram para o estado, sendo enterrados provisoriamente em Maruípe até que as obras do cemitério começassem . A lista dos que passaram desta para melhor foi arquivada no Palácio Anchieta e continha vários detalhes dos finados por exigência do próprio governador, para que depois pudesse mostrar aos turistas o quão importante eram, a saber:

Jazigo 1 - Antonio Etioci, morto em 1967, era italiano, boticário e dançarino. Introduziu a volta finalizadora em sentido horário no foxtrote tradicional. Tinha estreita relação com jazzistas de Nova Orleans e participou do várias "Jam sessions" na cidade. Nasceu em Bruzulio, comuna de Milão, e fez apresentações de dança por todo o país. Era exímio dançarino e ganhou diversos concursos. Além do foxtrote especializou-se em tango e dança maori. Criou o programa "Não pise no pé", um dos primeiros da inaugurada televisão, onde alcançou 98% de audiência. Após o programa ser finalizado participou de dois filmes de Hollywood onde contracenou com Fred Astaire.

Jazigo 2 - Eo Tim Tanade, morto em 1711, responsável pela tradução das mais importantes peças do teatro Nô japonês do chinês mandarim para o chinês cantonense. Tinha especial apreço pelas peças que descrevem as cerejeiras em flor e a influência delas nas culturas orientais. Difundiu entre seus conterrâneos taiwaneses o haikai e a caligrafia. De aprendiz tornou-se grande mestre e seus discípulos continuaram seu trabalho na escola chamada Sakurá. Casou-se e teve um casal de filhos.

Jazigo 3 - Aida Comade, morta em 1974, nascida em uma humilde família surinamesa em uma fazenda de cana-de-açúcar onde toda a família trabalhava na plantação, moenda e casa de purgar, percebeu na segunda infância seus dons de clarividência: previu as duas guerras mundiais, a revolução russa, o golpe de 64, a revolução cubana, a abertura japonesa, o golpe chileno, o aumento da capacidade da memória RAM nos computadores, a clonagem das células tronco, e muito mais. Esteve no festival de Woodstock e após em Moscou, onde sua mente foi exaustivamente testada no centro de pesquisas de clarividência. Tinha um estilo claramente "hippie" antes mesmo dele ser lançado - usava batas indianas com debruns dourados em tecidos leves de voil, saias longas, coloridas e pregueadas, e sandálias de couro cru. Sua casa tornou-se um centro de peregrinação onde várias pessoas testemunharam visões de luzes e discos voadores. Pediu para ser enterrada em um jazigo em forma de pirâmide.

Jazigo 4 - Roqc A, morto em 1973, precursor escocês do acorde "forte (fraco fraco)² forte" no rock and roll clássico. Franzino e míope foi exímio guitarrista e flautista. Costumava ensaiar na garagem de seu amigo Will onde depois formaram a banda "It's raining cats and dogs" que depois apresentou-se em todos os pubs do Reino Unido. Após revolucionar o rock abriu seu próprio estúdio de gravação onde vários artistas gravaram seus discos de vinil. Sofria de reumatismo grave e por isso passou seus últimos anos na Riviera Italiana onde comprou e restaurou uma vila com grande jardim, chafariz e muitos gatos e cachorros. A crítica, no começo muito dura, reconheceu seu valor anos depois ao publicar o livro "A razão do (fraco fraco)²" que teve grande repercussão na Europa ocidental.

Jazigo 5 - Iran Rliw, morta em 1850, era iraniana e descobriu a relação perfeita de fruta x açúcar para a geléia real de damasco. Suas experiências duraram mais de cinco anos o que resultou em uma patente que até hoje rende dividendos para a família Rliw. Sua geléia real foi largamente difundida entre os gourmets e causou comentários elogiosos por todo o oriente médio ao ser combinada com o queijo camembert francês. Casou-se e teve quatro filhos, um deles tornou-se patisseiro.

Jazigo 6 - Leelei Nolor, morto em 1869, era navegador e teve grande influência na contra-cultura em São Maurício ao levar um pouco de suas raízes búlgaras para a ilha. Perseguiu a linha de pensamento chamada "etiopiana" onde tentava cruzar as bases comuns entre ilhas do Índico com as ilhas do Pacífico, em especial a ilha de Bora Bora. Navegou com instrumentos antigos por prazer – colecionava astrolábios - e com instrumentos modernos por necessidade. A bússola e as estrelas estiveram sempre presentes em sua vida. Ágil e aventureiro, nunca era visto sem seu chapéu cinza com pequena faixa preta. Não se casou e alguns acreditam que Nolor era homossexual. Seus mapas tinham, além das usuais informações marítimas, caprichadas iluminuras a representar os ventos e monstros dos mares como sereias e tritões. Atualmente seu nome marca ruas e instituições Mauricianas.

Tatiana Brioschi
Enviado por Tatiana Brioschi em 04/04/2009
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