O GATO DE MINAS

Este fato ocorrera numa quinta-feira da semana santa.

O tempo estava bom e o dia lentamente fora engolido pelo entardecer, que, posteriormente fora engolido pela noite fria e calma de Belo Horizonte, Minas Gerais.

O homem, um respeitável senhor de meia-idade, tomara seu banho, bebera um copo de chá de erva cidreira e fora entregar-se nos braços de Morfeu. A noite já ia alta. As aves noturnas faiscavam o céu em vôos acrobáticos e solitários. Corujas piavam na cumunheira de alguma casa das cercanias do bairro e adjacências.

Lá pelas tantas da madrugada o homem fora acordado por um miado assim: ga-a-lô, ga-a-lô, ga-a-lô. Ele olhou para o relógio de cabeceira da cama e viu que eram 04:00 horas da matina. Ele estendera a mão e pegara seus óculos para enxergar melhor as horas, e, realmente eram 04:00 horas. O miado continuara: ga-a-lô, ga-a-lô, ga-a-lô. Então o cidadão levantara-se devagar, fora até a janela e na garagem vira um gato pintado de preto e branco. Ele balbuciara: bi-cha-no... bi-cha-no... mas o felino escafedera-se passando por entre as grades do muro do terreiro e ganhando a rua.

Amanheceu. O sol brilhava intensamente no céu. O homem então fora até a padaria onde comprara pão e guloseimas para os filhos. Então ele comentara o ocorrido com o balconista, que comentara com a caixa, que comentara com o dono do estabelecimento.

Mais uma vez anoitecera na cidade. A rotina da noite se fizera presente: o banho, o jantar, o prosear na varanda, a ceia das 22:00 horas e depois o dormir de todos da casa.

No céu, sob a luz das estrelas, propagavam os pirilampos e as aves noturnas outra vez mais bailavam com desenvoltura peculiar na amplidão. Já passava da meia noite, e, o deus do sono cuidava do ambiente naquela casa mineira e tradicional.

Novamente surgiu o miado: ze-i-rô, ze-i-rô, ze-i-rô... rompendo a madrugada de sexta-feira da paixão. O miado continuara por um tempo, acordando a dona da casa, uma senhora esbelta, porém cinqüentona. Ela olhara para o relógio de cabeceira da cama e eram 05:00 horas da manhã. Ela, ainda no leito, escutara o miado: ze-i-rô, ze-i-rô, ze-i-rô... Então a madama se levantara, fora até a janela do quarto e acendera a luz, indo até a janela da garagem vendo o bichano miador pintado nas cores azul e branca com uma estrela amarela na testa. Ela aquietara-se num canto da janela e estalando os dedos chamara baixinho: bi-cha-nô... Bi-cha-nô... Bi-cha-nô... Mas o gato, esperto como ele só, embrenhara-se pelos arbustos do terreiro afastando-se da garagem e do local.

Amanhecido o dia, todos tomados café, já na varanda da casa a mulher comentara o fato com o marido, que estranhara saber que o gato tinha novas cores.

Depois da prosa matinal o homem fora até a padaria, onde mais uma vez comentara com os presentes o fato do gato colorido estar passeando na sua garagem de madrugada.

Então, para solucionar o mistério, o português dono da padaria dissera ao cidadão que havia descoberto todo o segredo: o gato pertencia a um juiz de direito aposentado que morava na rua Bom Jesus, naquele bairro, tendo ele adquirido o gato siamês de um coronel reformado morador da mesma rua. Na casa do juiz morava, também, seu filho caçula, e, quanto às cores do gato era porque o juiz era atleticano e o filho era cruzeirense, e, por sua vez e por seu turno cada qual pintava o bichano nas cores do seu time do coração, dia sim, dia não...

E, para finalizar, diga-se ¨en passant¨ que, o bichano de Minas namorava a gatinha kiki, moradora do número 383, da Rua João Caetano, agora, se o felino era ensinado ou não deixo por conta do prezado(a) leitor(a).

Um abraço.

Felicidades!