Deserto... um instante em retiro
Momento de deserto. Este foi o propósito de estar ali, no imenso jardim da casa de retiro, a alguns quilômetros da cidade onde tantos ruídos a impediam de ouvir seu interior. Feliz por vivenciar este momento e ao mesmo tempo extasiada, tentando absorver cada emoção, pegou seu caderno verde, procurou uma caneta e logo começou a escrever.
“Minha imagem semelhante à Vossa...
Ouço a natureza ao meu redor, diversos sons de pássaros cantando a vida, contando histórias. Pinheiros ao vento, como diria Neruda, folhas dançando o ritmo na brisa suave, querendo alcançar o céu, de forma sobrenatural. O que me inspira a viver misticamente, para ouvir os sons de minha alma, ora gritante, ora silenciosa.
Como ouvir o silêncio, desejo o meu retiro místico para sempre. No meu caminho, paisagens vivas e coloridas vão passando pelos meus sentidos “naturais”. Amor manifestado de Deus, porque Ele está comigo e deseja ser amado, revelar Sua face e se fazer imagem em mim, transfigurando-me em vida santificada.
Os Santos serão em mim fonte de amor revelado do Pai, anúncio deste mesmo imenso amor manifestado no Filho, exemplo de vida mística movida pelo Espírito, sacramentando todas as coisas do céu, no caminho da minha fé e de todo meu ser.
Fica comigo, Senhor, fazendo nova todas as coisas.
Assim foi meu retiro, dia marcado pela minha comunhão e dia de nossos amados, que já partiram desta jornada.
Termino aqui, sabendo que voltarei, que é só o começo, tendo reabastecido para o próximo sopro que me enviará para a missão de cada dia.
Anotarei no deserto do meu coração todos os momentos em que estiver às sós, com Ele".
E assim, terminando suas anotações, fechou o caderno e ainda
em silêncio andou mais uma vez pelo jardim, procurando gravar todas as imagens que atraíram seus olhos naquela tarde.
De volta ao mundo barulhento, contou sua história para alguns e concluiu que silenciar é um verbo difícil de se conjugar, mas que outros desertos virão.