Do Fundo do Rio

Querido pai. Sei que me

espera com ansiedade,

sei disso por

ser também sobrenatural

e fazer parte da família

que se foi um dia.

Mas hoje...

hoje!

Estou feliz,

feliz assim,

cheio de roupa nova,

brilho de seda,

parecendo um

rei,

que não se despertou

para o adulto.

Sou eu que desfruta

de satisfação e ventura;

sou ditoso, afortunado,

venturoso.

Lá por dentro

onde voam pássaros

de fogo sou

intimamente contente,

alegre, satisfeito,

por saber que vivo

estás

em algum lugar

que ficou.

Sou eu que prospera,

que não teme o suicídio,

ou se desliga da vida

de modo permanente.

Sempre tive bom resultado;

fui bem-sucedido:

e favorecido pela sorte,

um afortunado:

que pede bênçãos ao padre

de manhãzinha

e que me

proporciona felicidade,

e disparates

de emoção,

pois sou um bendito avulso.

Estou sempre bem

lembrado ou imaginado,

pelas moças da vida,

e convivo

com o restolho

de seus sonhos.

Hoje denoto a visão

da alegria,com satisfação,

contentamento e ventura.

Uma zorra de alegria

numa pedra que bate

e não fere!

Mas no fundo,

se recolher os destroços,

lá nos perdizes,sou apenas

um laço sem cor,

um ameaçador da vida,

um pronto para se

atirar daqui

até lá.

Daqui da ponte

até o fundo do rio.

De seu filho,

João.

José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/04/2006
Código do texto: T135119
Classificação de conteúdo: seguro