Amor Eterno

Foi uma encrenca dos diabos

que a vida e aquela mulher me meteram.

Não sei como começou e nem sei

se ainda terminou.

Sei que ela está viva

porque notícias dela tenho a mil,

e tambémde de seus filhos.

Não sei lá se tem netos.

Sei que teve o primeiro

marido e largou e teve o

segundo e também largou e

parou no terceiro.Acho.

Virem-se os obstetras!

Para suportar minha vida na outra,

espero, ansioso, que seja mais calma.

Tudo começou quando a

encontrei sentada num pedaço de cimento,

numa tarde de outono,

largando pétulas de flores ao vento.

Um lindeza que me fez vibrar

até minha pecadora e impiedosa alma.

Estava dispersa até me ver. Eu com 18 e ela

com 18 anos. Querem idade mais perfeita para

deixar o coração se meter em encrencas de amor?

Em balbúrdias coloquias?

Parecia bendita e talvez maldita.

Mas era linda e seus olhos profundos,

sua boca igual

a maçãs virgens.

Sei que foi ali que tudo começou.

Eu olhei prá ela, ela olhou

prá mim.Nada mais ia terminar!

Estava marcado o enlevado encontro para

a vida toda.

Impiedosa vida de alegrias

pessoais, de desencontros totais

de perdas e danos, sem costura e sem

véu.Mas bela e sedosa,rosada e cálida.

Nos ncontrávamos semm mistérios

durante quase um

ano, sem ninguém ligar, sem ninguém dar

palpites.Nem havia fofocas nos salões de

beleza!

Ela aqui e eu aqui.

Assim tudo começou.

Como começa todos os dias

com alguém.

Só que comigo foi diferente,

quando a história começou

a mudar.

Sofri o diabo.

Primeiro ela era noiva

e vivia comigo

mas tinha um noivo

e enganava com ele.

Depois ela casou com o noivo

passou a lua-de-mel com ele,

mas deixou seu coração comigo.

Fui a seu casamento e ela teve

tempo de deixar no meu bolso um bilhete:

"Te amo eternamente". E foi prá cama com o cara.

Sumiu dois meses.

Apareceu grávida, cinco mseses depois.

Era um filho que nasceu filha.

Enquanto isso, ela

resolveu voltar comigo.

Não podi viver sem mim e eu

sem ela.

Passamos a nos encontrar

e namorar.

Eu já nem ligava para outra mulher.

Amava aquela deusa tanto que de mais

nada queria saber.

Foi brabo!

Foi dos diabos!

Coisinha encrencada essa coisa de

amor, de mulher que agarra

o espírito da gente e tudo combina.

dentro do desespero a luz aparece!

Dá agonia, dá tremor,

da sensação estranha.

A gente vê estrelas em pleno dia!

E assim passaram-se alguns anos.

Ela de dia passava comigo e à noite

dormia com o marido.

Então ela voltou a ficar grávida.

Minha culpa não era,

com ela só brabeira de amor platônico,

de fundição de almas

e redemoinhos de conversas

que atravessavam um dia inteiro.

No amor de carne nem pensar!

Nasceu outro filho,

que na verdade, era a segunda filha.

A primeira tinha 8 anos,

o marido dentuço tinha 41

eu tinha 25 e ela 25.

e o filho dela 6 meses,o marido,

35 anos.

Um dia ela me anunciou solenemente que queria

viver comigo e não podia.

Tinha medo.O marido bebia e batia muito nela.

Resolvi tirar satisfação com o marido.

De bobo, não tinha nada:

tomei meia-garrafa de uísque Jack

Daniel's e fui lá na casa

dela.

Quando ela me viu começou a gritar

o marido, já bêbado, nem falou nada

voou em cima de cima - o cara já

sabia da trama de amor eterno.

Besteira minha. Dei um tapa no vento

e ele um safanão na minha cara.

A mulher que eu amava, encostou-se num canto

e começou a gritar. Apareceu a filha dela

e começou a gritar.

A vizinha veio à janela e todos começaram

a gritar.

Eu ainda refestelado no chão.

Chamaram a polícia. Eu mal me aguentava em

pé não só pelo soco como pela bebida.

Ele também

bêbado, quis bater na polícia.

Eu corri lá e me atraquei com ele.

O policia pensou que era nova briga,

que eu tinha entrado na briga e veio

outro policial e entrou

no meio e foi todo mundo pro chão.

Naquela noite dormimos na polícia.

Eu de um lado e ele de outro.

Depois daquele dia nunca mais vi o

marido de minha amada.

Ele arrumou outra mulher e

eu ainda solteiro

aproveitava e encontrava com

ela todos os dias - juras contínuas de

amor eterno era lugar-comum.

Ela queria que eu fosse morar com ela.

Mas eu não podia, como ia largar

minha mulher? Ah! já tinha casado -

com uma linda moça de 23 anos que

só pensava em sexo

o dia inteiro.

Eu tinha uma filha de 6 anos. Mas

a mulher, não amava

aquela mulher, amava a outra.

A do amor eterno!

Um dia à noite, no quarto, cortamos os pulsos,

levemente, até jorrar um filete de sangue.Enlaçamos nossos

pulsos e juramos que viveríamos a vida inteira assim.Amantes gêmeos e eternos.

Só que eu cortei o meu pulso com força demias e precisei de ir até a farmácia

para fazzer um curativo.Desmaiado.

A partir dai nós nunca mais nos esqueceriamos um do outro.

Ela já tinha duas filhas e eu uma filha.

Andava desconfiado de minha mulher fogosa.

Quase toda noite ela ia para uma reunião

de costura.

Eu não ligava muito, pois enquanto

ela ia costurar eu ia encontra minha amada.

Tínhamos uma babá que cuidava das coisas

da casa e da criança.

Um dia minha mulher chegou em casa

e disse que estava esperando outro filho.

Eu logo desconfiei que o filho não era meu.

tinha certeza - o homem sabe quando a coisa

funciona.

Enquanto isso minha amada me chamou e

disse que um vizinho antigo seu a chamou

para morar com ele. Ela se sentia sozinha

e ele, viúvo também, mas sozinho.

Felizes dos sozinhos!Sempre arrumam companhia!

E foram os dois viverem juntos. Ele já tinha um

filho de 18 anos.

E com essa enlação dupla passamos

a nos amar mais.

Um dia inteiro não dava.

Nós amámos tão intensamente - agora num motel -

que o mundo era pequeno para nós dois. Nós dois sempre com

a cicatriz nos pulsos - juras de meu amor

eternizado.

Tive uma filha e minha mulher

recebeu tanta visita no hospital que não dava prá desconfiar

de quem era o filho que devia ser meu.Muito homem

veio abraçá-la e achar o bebe com a cara

do papai.Uma graça - diziam todos.

O quarto se encheu de flores.

Abracei e acariciei minha mulher

como se amasse muito.

Vi meu filho no berçário e não tinha

parecido comigo.

Tinha agora dois filho, minha amada também dois.

Um belo dia - depois que uns anos se

passaram, conversando no motel ela me disse

que ia largar seu atual homem.

Encarei com naturalidade, afinal ele bebia muito

e batia nos dois: no filho e nela.

Um dia - raivoso e masculinizado até a proa -

cerquei aquele homem numa esquina.

Quando ele me viu saiu correndo atrás de mim

com um pedaço de pau.

Sem ser herói, corri tanto que fui parar

de novo numa farmácia para tomar um

calmante.Tremendo de amor e medo.

Ela acabou largando ele e eu também nunca mais vi.

Dizem que ele morreu numa briga, esfaqueado,

e o filho começou a entrar em drogas e roubos

e acabou preso. É o que eu sei.

Ela voltou a antiga casa, que estava alugada,

e passou novamente a viver sozinha, mas

encontrando-se comigo todas as noites.

Foi ai que minha mulher abriu o jogo e disse

que sabia desde o início que eu tinha uma amante.

Estava aprontando a coisa prá me largar!

Eu disse que éramos apenas colegas.

Puta que pariu de colega ! - esbravejou ela.

Pegou os filhos

e foi morar com a mãe e levando meu filho.

Passei a morar sozinho.

Enquanto isso minha amada me anunciou um

dia que conheçara outro homem e estava

disposta a viver com ele.

Aleguei que, pela primeira vez na vida,

estávamos sozinho e livres de todos.

Ela alegou a educação dos filhos, dizendo que

o novo amante era dono de um colégio e assim

seus filhos não pagariam mensalidade.

Compreendi.Sabia que ela me amava perdidamente.

Passou ela a viver com tal homem

e eu sozinho.

Até que conheci outra mulher de

uns 35 anos e passamos a viver juntos.

Minha amada quando soube virou bicho

e quis até invandir minha casa para

acertar as ontas com aquela "vagabunda".

Pela primeira vez ela se mostrou

ciumenta em público.

Alegou que não haveria quebra de amor eterno pois,

como

já disse, tínhamos um pacto de sangue.

Tirei essa idéia da cebeça dela.

Ela estava preocupada com os filhos

pois o dono do colégio era conhecido

como cornudo ativo e seu filhos poderiam

saber, já que a cidade era pequena.

Duplicidade sim, pois apesar de ela viver com

um professor eu vivia com uma bancária,

que sempre que sonhava sussurava "Obrigado sr.

Ä situação parecia ter se acalmado. Tive um filho

com a bancária e minha amada teve um filho com o

professor.

O tempo,

algures, passava.

Eu toda noite encontra com ela deixando o mundo

rodar, amando loucamente aquele pedaço de

espírito onde o tempo parecia não se mover

tamanha a grandeza de nosso amor.

Assim o tempo passou.

Mas fomos nos

distaciando.

A bancária me largou e

se juntou com o gerente do banco.

Sentia que meu amor eterno

se distaciava de mima a cada dia,

apesar de manter silencio.

Um dia, ela me chamou e disse que em

nome de seus filhos e dos meus, não poderia viver assim.

Eu tentei justificar nosso amor-eterno.

Ela disse que o amor eterno continuaria

mas não poderíamos mais se encontrar assim.

De raiva tomada, tomei uma garrafa

inteira de uísque e fui no colégio onde

o tal professor dava aula.

O porteiro não

me deixou entrar pois disse que eu estava

embriagado.

Me fuzilei em cima do porteiro.

Apareceu a mulher do porteiro e começou a

gritar, apareceram os alunos atraídos pelo alarido

e todos começaram a gritar. Vieram os

profesores e começaram a gritar!

Foi um pandemônio!

Apareceu o diretor da escola que logo chamou

a polícia. O porteiro tinha um corpo avantajado

que logo me arrimou na primeira socada.

Apareceu outros dois corpulentos policiais que me

agarraram, me encostaram no carro deles e mandou

por as mãos no capô e que eu abrisse as pernas.

Igual a filme policial.Ouvi as algemas rangerem.

Embriagado e com raiva, me atraquei com o policial

e a desvantagem veio logo: tomei uma violento

surrupapo na cara que só fui acordar no

ambulatório com a cara inchada.

Houwe inquérito, essas coisas,

e o juiz, em vez de me prender, mandou eu

fazer um trabalho comunitário: limpar o pátio

da escola do escárnio do professor durante

dois meses.

Então, todas as tardes, lá ia eu de vassoura

na mão, varrendo aquela poeira, enquanto

lá em cima o professor ria de escrachar, sem

saber logicamente que eu vivia e comia a mulher dele.

Nãa contei, mas quando acabou parte do amor platônico,

passamos a viver um pouco da carne e da luxúria.

Ela acabou mudando de cidade e dela

não tive mais notícias de corpo à corpo.

Apenas ela me enviava pelo correio fotografias

de sua família, de suas filhas moças lindas

de morrer, me mandava poemas, me mandava tiaras

de sua roupas, pétalas esquecidas de flores.

Vinham também a foto de um belo menino de seus

10 anos que eu nunca fui saber quem era e ela

nunca tocou em seu nome.Mas ele me lembrava

alguém!

Assim se passaram 40 longos anos.

Hoje, aos 50 anos, vou a missa todos

os dias pedindo a Deus que ela

volte, ou que o marido dela morra,

ou que os alunos resolvam matar

de a pauladas aquele

professor.

Hoje sou um solitário que vivo aposentado

com a casa cheia de fotos, flores, roupas,calcinhas,

sutians, vestidos, perfumes e garrafas

de bebidas.

e tudo que se possa se imaginar que se possa

enviar

pelo correio. para seu amor eterno.

Haja vida!

Haja amor eterno!

Mas desconfio que essa história ainda não acabou

pois outro dia recebi pelo correio uma aliança

gravada com o nome do professor.E de quem seria

aquela foto, sem nome, do garoto, que aparecia em

toda correspondência?

Tenho lá desconfianças, pois

haja vida,

haja amor-eterno!

José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/04/2006
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