SILAS, NÃO MAIS.
Um velho, letrado, vaidoso do seu saber resolve mudar-se do lugarejo onde nascera e até então se mantivera. Ali ele era um verdadeiro doutor, e assim era tratado por todos, com honrarias. Seus humildes vizinhos, solenes diante dele se prostravam para lhe ouvir as leituras de ultrapassados jornais e livretos que por ventura lhe chegavam às mãos.
O velho letrado num surto de vaidade foi-se para capital, pois afinal ele sabia ler e não deveria mais perder o seu precioso talento com àqueles!
Abatido retorna a velha vila - Num de seus Serões Dr. Silas, como era chamado, pelos vizinhos, com voz embargada pela vergonha desabafa: “Senhores, aceitem minhas sinceras desculpas”. Olhares se cruzaram sem muito entender. Dr. Silas prossegue:“Lhes digo que, quem pouco parece saber, sabe muito mais do que este velho, que sou eu” – Ao referir-se assim, veio à memória de do velho Silas, José Antonio, um garotinho de 10 anos de idade, mirrada estatura, de pele negra e filho da cozinheira da pensão, onde o velho doutor ficara hospedado, durante o período de sua estada na Capital.
Zé Antonio esperto e simpático, simpatizara com o velho.
Silas habituado aos Serões lia para Zé, não obstante, a atenção, simpatia e respeito; Zé de quando em vez interferia educadamente para corrigir os ruídos cometidos por Dr. Silas durante suas leituras, além de encantadoramente com àquele seu com jeito maroto e infantil acrescentar ali e acolá traduções a algumas palavras e frases, em dois outros idiomas distintos e desconhecidos para Silas, o que sabia ler.
"Senhores, por favor tratem-me apenas como Silas -, Silas, não mais. Pois agora vejo-me, e, constato que muito pouco sou e não mereço o título, Doutor - As palavras que de mim ouvirão, as conheci nalgumas de minhas viagens, digo leituras. Foram ditas senhores, por alguém que sabia mais que ler, ainda assim, tamanha a sua sapiência dele se ouviu: "Só sei que nada sei".