BRIGITE - UM CONTO DE NATAL. (II - PARTE)
Parte II
Num dia qualquer Brigitte fora recolhida pela caridade de um samaritano anônimo que a conduziu a um recanto aprazível e salutar. A acolhida e os cuidados recebidos aos poucos foram demonstrando seus efeitos, e as melhoras de ânimo e na aparência se fazendo visíveis naquela senhora de maneiras cultas e distintas, todavia, o estado de saúde segue gravando-se, entretanto, a hospede não se deixar a ociosidade, retribui a hospitalidade como pode, dedicando-se a algumas atividades dentro da instituição. Dois anos após a acolhida a enfermidade se lhe prostra ao leito.O câncer lhe devora o interior, e chega a superfície do corpo que se abre em chagas, exalando de Brigitte odores inaláveis. Contudo, a bondade dos trabalhadores daquela seara não lhe deixa faltar cuidados, a enferma se esforça para não ser carga... Ensimesma, em vista do estado que não lhe permite mais sair do leito de morte, vive seus últimos instantes extraindo de sua memória lembranças dos pais, dos amigos, da juventude; entre suas recordações a imagem de Angelina lhe aparece. E a saudade da família lhe perturba as emoções, daí por diante a doença agrava-se mais e mais a cada dia, com a garganta tomada pela enfermidade, silenciosamente passa os dias e noites, apenas as lágrimas lhe correm na face descarnada e ferida.
Angelina, amadurecera, e do alto de seus 40 anos de idade, na envergadura do hábito tem os seus gestos e comportamento pautados pela disciplina religiosa, a delicadeza de menina havia cedido lugar à austeridade relativa às superioras.
Vinte e três anos depois, Angelina desce do automóvel às portas da Casa das Freiras e tem sob suas vistas a mesma Miracema, com apenas algumas mudanças no calçamento das ruas, com um maior número de edificações, casas novas e com pavimentos superiores se destacavam na paisagem urbana, porém o casario continuava ali; também, o colégio em que aprendera as primeiras letras fora mantido seguia ainda com a mesma fachada arquitetônica. A praça e a matriz, incluso, a casa dos seus pais assim como a igreja e o colégio foram tombados como patrimônio histórico.
A Madre regressara para rever os genitores. E como filha ilustre da cidade fora recebida com honras e pompas afinal ela havia estado com o Papa, em Roma. A recepção de Angelina foi promovida pelo município, os grupos escolares desfilaram, como no 07, de setembro; a banda municipal em roupa de gala fez bela apresentação; senhores, e senhoras, e os jovem mais religiosos lhe beijavam as mãos com reverencia; e, os mais humildes além de muito emocionados não se contiveram, como numa histeria coletiva muitos se acotovelavam na tentativa de tocar as vestes da Madre, necessitando serem dissipados pela guarda prefeitura. E para àquele dia foi estabelecido um feriado local. As manifestações de aclamação, embora, moderadas, todavia, se tornaram rotineiras e habituais para Angelina, que com certo encanto e orgulho, se deixava aos regalos dos caprichos da vaidade humana.
Passado alguns meses chegou até ao seu conhecimento que sua prima, também, se encontrava na cidade; inteirada do estado de saúde de Brigitte, Angelina vai ao seu encontro na casa de repouso, a essa altura do tempo, o estágio da enfermidade era bastante gravoso, terminal, àquele ser acamado mais se assemelhava a cadáver, não fosse a espera por seus últimos fôlegos de vida, já o teriam sepultado.
Embora limpo, o quarto da enferma era eternamente fétido, as chagas localizadas na face causavam repugnância, lhe eram trocadas as gazes de sobre as feridas, mas, estas se saturavam com as secreções purulentas; incensos de alfazema e outros aromas eram deixados no ambiente para minimizar o ar ao redor da moribunda. Que dado a debilidade orgânica, agonizante, parecia em transe entre a vida e os portões da morte, num constante vislumbrar de seres que somente ela percebia.